Por muitos anos fui um sonhador dos cruzeiros marítimos nas costas brasileiras. Primeiramente nos idos de 90 criei a Crema (Conselho de Representantes de Empresas Maritimas), um apêndice da Braztoa que tornar-se-ia anos depois na Abremar, entidade da qual fui seu primeiro presidente. Foi nesta época que aconteceu o esperado “Boom” dos cruzeiros no Brasil com a vinda do Splendour of the Seas, da Royal Caribbean, ao Brasil. Um acontecimento sem dúvida marcante para este setor, pois após a vinda deste então mega navio, as demais armadoras começaram a enxergar o Brasil e a América do Sul como um promissor destino.
O sonho passou a ser compartilhado com os demais dirigentes de empresas de cruzeiros e por todo o trade de turismo. Para os armadores, um berço esplêndido com milhares de quilômetros de costa a ser desbravada e um mercado consumidor ainda virgem e, para os agentes de viagens um novo produto nas suas prateleiras.
Sonhávamos que as autoridades brasileiras aplaudissem os investimentos destas empresas que investiam com risco a deslocação dos equipamentos de muitos milhares de dólares e euros aos nossos mares, bem como com a enorme receptividade dos viajantes que teriam agora na porta de suas casas aquelas naves tão charmosas e sonhadas que só navegavam em outros mares.
A receptividade do mercado consumidor foi maior do que o esperado. O crescimento da oferta de mais de 100% a/a provou que a opção dos armadores foi correta, entretanto esperávamos eles e nós que o Brasil acompanhasse com a infraestrutura necessária.
Triste esperança. A burocracia que sabíamos existir por conhecer os meandros do poder foi muito mais prejudicial do que poderíamos imaginar. Todas as dificuldades foram criadas. O CNIg (Conselho Nacional de Imigração) exemplarmente não só deixou de acompanhar a política de vistos aplicadas ao redor do mundo como dificultou imensamente a concessão dos mesmos, obrigando que os passaportes dos tripulantes, às centenas, viajassem de avião para sua concessão em Brasília, com o tremendo risco de extravio dos mesmos no caminho, o que até hoje permanece da mesma forma.
A Receita Federal não ficou por dever, enquanto taxam o combustível em 21% para os cruzeiros dentro do Brasil, deixam do cobrar dos navios de carga e dos cruzeiros internacionais, fazendo com que viagens aos países do sul sejam mais atrativas ao consumidor do que as realizadas em território nacional.
Mas o mais sério e mais triste tem sido a imobilidade na criação da infraestrutura dos portos para atendimento deste crescente segmento. Apesar da boa vontade das armadoras que construíram às suas expensas portos no Brasil, assim como fizeram em inúmeros destinos ao redor do mundo, nada acompanhou, pelo contrário, conhecendo a insegurança jurídica aqui reinante, desistiram de tal intento. Esperávamos, entretanto que governo e autoridades portuárias compreendendo os benefícios gerados pela movimentação de milhares de viajantes, investissem na melhoria dos portos e criassem novos destinos para visitação em nosso litoral. Nada foi feito a não ser pela iniciativa privada, pelo Concais que construiu dentro do possível uma bela estação em Santos, e no Rio de Janeiro.
Mas esta inércia e a ganância têm seu custo. Pela primeira vez após 12 anos de crescimento na oferta de navios e leitos este número é decrescente na temporada de 2012/2013, menos navios e consequentemente menos oferta. E pelo andar da carruagem essa é uma tendência irreversível já que os mercados asiáticos da China e Índia estão em franca ebulição, construindo excelentes portos de passageiros e mostrando seu potencial de mercado. Sem dúvida que vão conquistar a simpatia dos armadores oferecendo-lhes as facilidades que esperam.
Hoje, graças ao “custo Brasil” os cruzeiros internacionais estão mais em conta e oferecendo melhor serviço, melhor qualidade gastronômica (os alimentos também sofrem com a taxação brasileira) e portanto são mais atrativos do que os de cabotagem.
A esperança de que o Brasil se tornasse um destino mundial de cruzeiros, que Fortaleza se tornasse uma “Caribe” brasileiro e fosse um “hub” de viagens para a Amazônia se desvanece em um sonho que termina com o triste despertar para transformar-se em pesadelo.
Mas aos otimistas ainda existe uma réstia de esperança e este tem sido o trabalho incansável e incompreendido da Abremar. Acorda Brasil! Este tem sido o grito sufocado daqueles como Costa Cruzeiros, Pullmantur, Royal Caribbean, Ibero Cruzeiros e MSC que sabem do quão benéfico seria se pudéssemos atrair o mundo, ofertando nossas lindas e paradisíacas praias em seus moderníssimos navios para nos tornarmos o Novo Caribe.
Eduardo Vampré do Nascimento é presidente do Sindicato das Empresas de Turismo de São Paulo (Sindetur-SP) e diretor da Nascimento Turismo.
Eduardo Vampré do Nascimento