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Portal Brasileiro do Turismo

Opinião

Pensar global e agir local

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Esta máxima criada pelos ambientalistas e que resume com muita propriedade como devemos pensar o futuro do planeta; serve como uma luva para a Copa do Mundo de 2014 uma vez que grande parte do movimento do turismo local; fica à mercê deste evento de proporção mundial; o que leva a concessões muitas vezes pouco sustentáveis para o país anfitrião.

Sabemos que o posicionamento que o país sede deve ter do ponto de vista da visibilidade mundial é gigantesco. Todo esforço é válido ao criarmos as condições necessárias para receber bem os visitantes e torcedores. Porém; nosso pensamento enquanto nação deve ser sempre o pós-evento. Esta é a grande conquista e temos que aproveitar a honra em sermos escolhidos para receber um evento de tamanha proporção para que tenhamos ganhos de longo prazo.
Todas as obras devem ser feitas pensando na continuidade; inclusive os estádios; mas não vou falar disso; sei que todos os envolvidos estão com foco nessa questão. Vou me ater ao turismo.

Já é a segunda Copa que vivencio e que me envolvo com a parte operacional. Na última; realizada na África do Sul; a Ambiental; empresa de turismo da qual faço parte; atuou como operadora autorizada pela FIFA; o que nos serviu para avaliar a atuação e importância do turismo em termos de negócio global. Ficou evidente a importância que a FIFA e seus aliados têm na operação do turismo durante a Copa.
O fato de serem eles os detentores dos ingressos lhes dá um poder de negociação muito forte; afinal é ela a responsável pela distribuição das entradas para os jogos. Isto é correto e faz parte do modelo de negócio; já que os produtores do evento detêm e controlam esta venda; mas ainda restam diversas questões a serem pensadas. Em qualquer país os deslocamentos para os estádios; o período entre um jogo e outro; a estadia; as refeições; a inquietude normal de qualquer turista em conhecer os locais mais famosos e interessantes do país visitado; relacionam sem dúvidas este evento ao ramo do turismo; o que também resulta em uma forte carga de estímulo à atividade da indústria.

O tema aqui proposto; avaliando estes processos; é quem vai ganhar com a Copa de 2014 no ramo do turismo. Certamente os setores de hotelaria; transportes (aéreo e terrestre); bares e restaurantes; artesanatos; entre outros; farão sucesso. Mas é preciso cuidado; pois é tênue o fio que separa o resultado sustentável do resultado imediato; afinal; esta conquista tem que ter continuidade. Como exemplo posso citar os hotéis; em especial os do Rio de Janeiro; que adotam uma atitude que parece protecionista para nós brasileiros; segurando o crescimento de novos concorrentes para garantir sua zona de conforto; com baixa oferta; pouca qualidade de atendimento e alta demanda; elevando preços sem ter amparo no bom serviço. Sem repensarem sua atitude; este segmento assistirá; de forma passiva; a uma invasão de fundos de investimentos internacionais; que resultará na construção de novos hotéis em detrimento dessas posições cartoriais.

Quero com isso dizer que devemos ter uma Copa do Mundo feita por brasileiros. O ideal seria concretizar um projeto sustentável para sediar a Copa de 2014  com eficiência; visando resultados no pós-evento; onde o número de estrangeiros e o hábito do turista doméstico em viajar se tornem uma linha ascendente. Certamente; todos irão se beneficiar com o crescimento da oferta; já que a demanda será crescente.

Penso também que não devemos nos sujeitar às reservas e preços fixados por empresas ou grupos fora de nosso contexto nacional; empresas estas que criam regras leoninas e que comprometem nossos resultados. Este ponto somente será rompido se o turismo for compartilhado com operadores brasileiros. É o que chamo de ponto nevrálgico.

Nosso país tem o futebol como tradição e também o turismo; mesmo que este último seja mais recente. Possuímos inúmeras virtudes já experimentadas indicando que podemos receber um evento exitoso por nossa já consagrada capacidade técnica e operacional. Temos transportes em todas as capitais e cidades próximas; diversas companhias de ônibus de turismo com boa oferta; grande quantidade de aeronaves e certamente temos à nossa disposição; companhias fretadoras e outras soluções classicamente utilizadas em períodos de alta demanda. Naturalmente; um incremento nos aeroportos; como já foi divulgado pelo governo brasileiro; será necessário. O ponto central é a inteligência operacional e comercial para que todas estas pontas se conjuguem em uma operação turística nacional. Como isto seria possível?

Como os jogos e as torcidas estarão em diversos pontos do território; as empresas de receptivos serão locais; pois não temos uma grande operadora que tenha base própria que dê suporte para uma operação em todos os pontos necessários.
Certamente a responsável pelo evento; a FIFA ou uma de suas coligadas comerciais; pensa que a soma destas empresas locais seja suficiente para dar cobertura ao todo nacional e experimentará uma ação de “costurar este tecido”; o que será de grande risco para o turismo nacional.  Digo isto porque na África do Sul tudo ocorreu desta forma; com pouca ação de operadores sul-africanos; que levou a perda de controle da ação turística como um todo. Sabemos que isto não pode ocorrer no Brasil; porque esta ação deve ser tomada em consonância com as culturas locais e com as histórias da operação turística nacional. Só poderá tecer esta teia de idiossincrasias; diferentes e regionais; operadores nacionais com experiências em eventos; em operações segmentadas e que tenham uma capacidade de articulação e respeito por estes pares regionais e mais; sem nenhuma dificuldade em ter como par principal; os aliados da FIFA; empresas ou coligadas; que vão agir e articular os processos que devem compor esta operação do ponto de vista global.

Em suma; sem a cadeia completa da indústria do turismo articulada; em parceria com quem tem história de copas como a FIFA; teremos problemas na operação. Nosso amadurecimento na Copa da África; que por razões diversas pouco utilizou a inteligência operacional local; por falta dela ou por entender que fazer sem ela seria mais lucrativo; levou à crises diárias que foram debeladas; no caso da torcida brasileira; por seus operadores em parceria com fornecedores locais.

O fato é que o risco operacional; com dias estressantes de jogos; com horários absurdos; com a falta de conhecimento do percurso por parte dos motoristas de ônibus; que muitas vezes não eram locais e não foram capacitados para a atividade que executavam; com os vôos que não estavam devidamente reservados; ou ainda com os “overbookings”; por falta de clareza da empresa responsável pela operação no dia do jogo e outros tantos erros; nos dão a clareza de que devemos estar bem alinhados nesta realização.

Nossa tarefa é sem dúvida e com toda delicadeza necessária; compor esta rede na indústria do turismo com firmeza e visão brasileira. Articular com as empresas detentoras do evento com foco exclusivo na qualidade do serviço e garantir que esta consonância entre os empresários nacionais e as empresas ligadas à FIFA seja produtiva; generosa e resulte na melhor Copa do Mundo da história do futebol e no maior evento que o Brasil já sediou.

José Zuquim é ex-presidente da Braztoa; ambientalista; presidente do IMB e diretor da Ambiental Turismo

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