O Turismo é um destacado setor do comércio internacional, se considerarmos que as receitas totais dessa atividade globalizada superam a maioria dos outros setores econômicos. A cadeia produtiva do Turismo é muito mais importante do que a produção dos setores primário e secundário em termos de participação e atividade econômica.
No entanto, o Turismo é um setor altamente vulnerável que depende de uma série de fatores, muitos dos quais sem controle do Estado.
Acontecimentos globais e regionais podem nos levar a um cenário de retratilidade, à estagnação relacionada à política internacional a riscos geológicos, meteorológicos e epidêmicos e pandêmicos de operações nos modais e terminais de transportes e comunicações, ataques terroristas, oscilações de conjuntura econômica e competitividade de tarifas aéreas para países distantes como o nosso dos tradicionais mercados emissores.
Neste sentido, as performances da economia mundial em anos recentes que se revelaram relativamente satisfatórias (taxas médias de crescimento de 4,0 % a.a) e a valorização do Real em relação às moedas “fortes” (particularmente o Dólar) a partir de 2003, vem proporcionando importantes repercussões no cenário do Turismo internacional brasileiro, tanto no receptivo quanto, e particularmente, em seu emissivo, resultante da grande mobilidade social, ocorrida no país nos últimos anos. No que se refere ao crescimento da economia, isso ocorre em função do que significa o aumento da renda na propensão a consumir dos indivíduos, particularmente nos bens não essenciais, como é o caso do turismo. Produto que apresenta elasticidade maior que 1 em relação à valorização cambial. Sua importância se dá pelo que representa nos custos de viagens internacionais, na medida em que o Turismo responde ao câmbio como se fora um produto de exportação e de importação: quando o câmbio se revela valorizado, estimula-se a importação, que corresponde à saída de brasileiros para o exterior (emissivo).
Em 2010, a nossa despesa a importação foi de U$$ 1.422 bilhões, o que corresponde a mais de U$$ 1 bilhão por mês. Nossa receita ou exportação foi de U$$ 5.919 bilhões, portanto, registrando um déficit de U$$ 10.503 bilhões.
Nosso Turismo receptivo em 2010 foi da ordem de 5.160.000 turistas. Estamos a quase dez anos estagnados nesse número.
É preciso urgentemente somar estratégias e multiplicar iniciativas, para logariticamente exponenciar essa equação.
A América do Sul em 2010 recebeu 23,5 milhões de turistas, o que equivale a 2,5 do total do tráfego turístico mundial.
A América do Norte recebeu 99,2 milhões correspondendo a 10,6 % do total.
A Europa 471.500 milhões, ou seja, 50,4 % do total.
Só o turismo intracontinental da Europa corresponde a 48,8% do tráfego mundial. Ásia e Pacífico respondem por 203.8 milhões de chegadas.
Oriente Médio, 60 milhões – 6,4%
África, 48,7 milhões – 5,2%
Caribe e América Central, 28,6 milhões – 3,1%
Diante desses números, urge um trabalho hercúleo e instantâneo para ampliar significativamente este receptivo internacional.
E este é o grande momento, a largada decisiva pois teremos dois mega eventos como a Copa em 2014 e as Olimpíadas em 2016.
As políticas públicas do Turismo precisam ser repensadas e rapidamente e implementadas.
É imperioso que se aproveite o momento e se desenvolva estratégias imediatas.
Em quais mercados queremos estar presentes? Queremos um modelo exportador? Que produtos? Em que extensão da cadeia produtiva?
O Ministério do Turismo, por meio da Embratur, deverá atuar em conjunto com os demais mercados emissores e principalmente com os da América Central e sul americanos tocando metas prioritárias e estratégicas como:
– Multidestinos: agregando serviços e equipamentos de qualidade e competitividade a roteiros transnacionais e circuitos regionais temáticos com foco nas características do patrimônio cultural e dos ecossistemas.
– Code Share: das empresas aéreas sul americanas e estrangeiras.
– Tarifas mais competitivas com o Atlântico Norte.
– Melhorar a inserção dos países ibero-americanos no mercado internacional com o Caribe e a América Central com visitas à Patagônia até o Cabo Horn, na Cordilheira dos Andes, nas regiões lacustres do Chile e Argentina, nas diversas rotas que já integram o chamado mundo Maia. Os circuitos das capitais cosmopolitas sul americanas como Santiago, Buenos Aires, São Paulo e Rio de Janeiro, o litoral do nordeste brasileiro, a Bacia Amazônica, com Venezuela e Brasil, Colômbia, Equador e Peru.
O Chaco e o Pantanal, o Altiplano boliviano e o roteiro dos Incas, os circuitos estruturados em torno das Cataratas do Iguaçu e as rotas jesuíticas.
As múltiplas possibilidades para apresentar ao mundo o produto turístico ibero americano já foram elencadas, os esforços para a integração da América Latina já foram iniciadas, restando agora a união efetiva entre seus povos, governantes, empresários e o grande desafio à sua concreta integração.
Em síntese, a gestão do turismo está relacionada não somente à eficácia da prestação dos serviços e do seu potencial físico, mas também ao relacionamento e a dinâmica do ambiente institucional entre os diferentes segmentos do setor. Esse relacionamento traduz-se na seleção de parcerias potenciais sinérgicas em novas formas organizacionais de produção, podendo resultar na maximização do lucro das organizações por meio não somente de minimizações dos seus custos de produção das sucessivas etapas da prestação de serviços, mas também pelo fortalecimento do ambiente institucional de redes de produções atuantes na atividade.
A orientação que emana das estruturas e dos processos analisados transparece não só na aspiração de dotar o setor de um rumo claro, que permita uma atuação mais estratégica, mas sugere a busca de um padrão de desenvolvimento coordenado, através do qual se almeja promover uma maior interação dos diversos segmentos e agentes nacionais vinculados ao Turismo, tanto quanto destes com instituições e atores internacionais relacionados coma atividade turística.
Empenho em imprimir uma crescente racionalização na condução e na gestão pública da atividade turística, e o alcance desse objetivo se assentava na crença de que um aparato institucional mais organizado, profissional e especializado em Turismo, poderia alavancar esse processo!
Doravante com as orientações legais e os planos institucionais recém-produzidos tanto quanto o atual arcabouço institucional do turismo continuem a impressionar não só a criação de novas oportunidades sócio-econômicas, mas permitam também o incremento da participação dos mais diversos atos sociais impactados pelo Turismo, nos processos decisórios das políticas públicas, com vistas a estimular a progressiva democratização desse relevante setor econômico.
Mario Carlos Beni é professor doutor da Universidade de São Paulo, autor de livros de Turismo e membro do Conselho Nacional do Turismo.
Mario Carlos Beni