A formação hoteleira em nosso país passa por um equívoco: há algumas faculdades que resolveram adotar modelos europeus em suas grades, com supervisão externa internacional, que fogem aos preceitos da gestão hoteleira brasileira. Inclusive, obrigam os alunos a utilizarem indumentária esdrúxula, para um país onde faz calor durante grande parte do ano. Sem dúvida alguma, não é um modelo adequado. No entanto,cursos de extensão com especialistas suíços ou ainda estágios em cadeias europeias ou intercâmbios, além de estudos de caso de sucesso são o caminho para o amadurecimento da formação discente.
A hotelaria carioca, por exemplo, está dominada pelo modelo espanhol. São galegos mormente que se instalaram no Brasil e se dedicam à hotelaria. São hotéis que pertencem a vários sócios, sendo normalmente um majoritário. É interessante pois tais gestores cuidam pessoalmente da parte de alimentos e bebidas, inclusive servindo nos restaurantes,durantes as refeições. Ocupam-se também das compras e supervisionam o trabalho do gerente geral o dia inteiro,já que permanecem nos hotéis de 10 a 13 horas, por dia. O gestor majoritário, normalmente toma as decisões estratégicas e negocia com fornecedores, em nome de todos os hotéis. A própria arquitetura dos hotéis passa por um modelo muito semelhante, na concepção dos quartos, dos móveis,da utilização de mármore, o que reduz drasticamente os custos. Assim, a formação acadêmica tem que levar em conta o modelo citado, para aumentar a empregabilidade de seus futuros egressos.
Por outro lado, as cadeias internacionais, que são certificadas possuem processos de gestão totalmente sistematizados, para todas as funções e para criar uma estrutura de hospitalidade idêntica, em todos os equipamentos hoteleiros. Bom, é manter convênios de cooperação técnica com hotéis e permitir aulas “in loco”, como fazem várias universidades. Lembramos que a maior parte dos hotéis brasileiros se orientam por uma gestão familiar, onde a direção fica com alguém da família e a operação com técnicos da área.
O futuro egresso de hotelaria vai poder optar por vários segmentos: a hotelaria de luxo, a hotelaria hospitalar, a domiciliar, a parte de alimentos e bebidas,entre outros. A hotelaria hospitalar vem crescendo e dando uma “nova cara” aos hospitais e clínicas particulares. São dirigidos no formato de “um hotel” com atendimento diferenciado desde a chegada,a concepção do quarto com TV de plasma, serviço 24 horas,mudando totalmente não só a percepção do doente mas dos que o acompanham. Em recente curso de pós graduação, encontrei um médico que dirigia uma clínica no modelo “gestão hoteleira!” em São Paulo, tendo inclusive trazido vários consumidores internacionais,sobretudo na área de estética, por serem nossos preços mais competitivos. O grande achado foi trazer uma chef para a preparação das comidas e o mapeamento de alguns restaurantes,que poderiam ter as refeições ingeridas, em função das patologias.
Na hotelaria domiciliar,há a possibilidade de administrar quartos dentro de suas próprias residências para acolher turistas nacionais e internacionais. Tal segmento vem evoluindo e criando verdadeiros projetos revolucionários,como o bed and breakfast,em Santa Teresa,que hoje foi também implantado em Pernambuco. O programa prevê inclusive classificação dos quartos em função das comodidades ofertadas. Sem esquecer,as pequenas pousadas de luxo,administradas por seus proprietários no conceituado “roteiro do charme”. São inovações que acompanham um novo perfil do aluno de hotelaria,que não pode estar apenas preparado para a hotelaria convencional. Ela é a base da formação mas não pode deixar de ser entendida como uma opção, que também demanda criatividade.
Os salários oferecidos pela hotelaria são muito atrativos. Há incentivo na formação, cursos e seminários contratados de consultorias ou ministrados no âmbito das associações de classe. A possibilidade de galgar cargos executivos existe e demanda avaliação contínua de desempenho funcional. Não deixo de mencionar que a hotelaria é para quem ama as outras pessoas, entende a diversidade e não tem horário, para começar ou finalizar um dia de despertar o sonho, dos que pernoitam nos estabelecimentos. O hotel não é e nunca será uma continuação de nossas casas mas um local aprazível onde poderemos desfrutar de uma experiência única a de dormir sossegado, sem barulho, com conforto e alegria.
Bayard Do Coutto Boiteux é diretor do curso de Turismo da UniverCidade e preside o site Consultoria em Turismo.(www.bayardboiteux.pro.br)
Bayard Do Coutto Boiteux