
Especialistas apontam saídas para minimizar os efeitos da crise
O ano de 2015 termina com uma retração do PIB acima dos 3% e inflação de dois dígitos. O ano mudou, mas as previsões pessimistas não. Economistas e analistas esperam que o Produto Interno Bruto do Brasil tenha um desempenho parecido em 2016, com queda entre 2 e 2,6% e uma inflação na casa dos 6,8%, embora o Banco Central estime 5,6%. E o dólar? Neste ano ele chegou a bater na casa dos R$ 4, mas ficou por volta dos R$ 3,80 no último mês. O BC projeta que a moeda americana fechará o ano com um valor parecido.
“Fechamos 2015 com uma inflação entre 10,5 e 11%. Para esse ano, com uma expectativa de 6,5 e 7%, podemos observar uma leve recuperação da economia, mas ainda um cenário bem perverso”, explica a professora de economia da Fundação Getúlio Vargas, Virene Matesco. De acordo com Matesco, a última vez que o Brasil registrou uma queda do PIB por dois anos consecutivos foi em 1930 (-2,1%) e 1931 (-3,5%).
A queda se deu após a depressão de 1929, com a quebra da bolsa de Nova York. O resultado foi intensificado pelo período político conturbado, que se deu pelo fim da oligarquia paulista. Um soma de uma crise econômica e política similar ao que o Brasil enfrenta no momento. Segundo a professora da FGV, se confirmada, a estimativa da diminuição do PIB no biênio 2015-2016 será o pior desempenho econômico do Brasil em 85 anos. “Este é um quadro preocupante. Principalmente porque o governo está parado. Não sabemos quem vai comandar o país. Enquanto a situação política não se resolver, a economia não consegue se restabelecer”, enfatiza.
São dados preocupantes. Ainda mais com o agravante da crise política, que parece estar longe de uma resolução. Se no ano passado, as viagens internacionais despencaram, não há perspectivas de alta em 2016. O estudo Sondagem do Consumidor – Intenção de Viagem, do Ministério do Turismo mostrou que as viagens de carro cresceram 33% e que os destinos nacionais têm ganhado a preferência dos viajantes. Ao todo, 81,7% dos entrevistados afirmaram que querem visitar alguma cidade brasileira nos próximos meses.
Mas este cenário está vulnerável e pode mudar no decorrer do ano. Como fazer um planejamento para um ano imprevisível como este? Como as agências de viagens – na grande maioria pequenas e médias empresas – devem se preparar? O M&E foi em busca destas respostas e de dicas para se preparar melhor para as turbulências que ameaçam chegar em 2016.
Nem todas as notícias são negativas. Virene Matesco ressaltou que – embora a um câmbio mais alto, em torno dos R$ 4,20 – o dólar deve estabilizar no segundo semestre de 2016, quando a situação política tiver tomado forma e – espera-se – esteja resolvida. “Com o dólar mais estável, podemos esperar um alento no lado das exportações. Entretanto, é importante lembrar que o preço das comodities exportadas pelo Brasil ainda estão a preços muito baixos”, lembra Virene.
Em relação ao Turismo, a professora explicou que em qualquer momento da economia brasileira, esteja o país em recessão ou em alto crescimento, o segmento é muito importante para o Brasil. “O Turismo gera muitos empregos e ajuda a movimentar a economia que encontra-se estagnada. O câmbio a R$ 4 também ajuda, tornando o destino mais atraente aos estrangeiros”, destaca. O diferencial do setor é que, devido a crise, muitos empresários deixam de realizar investimentos a fim de esperar uma resolução do cenário político e econômico, aguardando um momento mais oportuno, segundo a economista.
E na prática? Como as agências de viagens – em especial as pequenas e médias – podem se precaver? A gerente-sênior da área de Advisory da BDO e especialista em pequenas e médias empresas, Romina Lima, acredita que, com a retração da economia, os empresários devem investir no aumento da competitividade e em nichos de mercado.
Para ela, é necessário investir em novas estratégias, como vendas online, e em serviços personalizados. Segundo a consultora, as agências não podem negar a tendência da internet, que responde hoje por 24% de todas as vendas de viagens na América Latina. “Isso deixou de ser opcional, é necessário estar presente na internet”, alertou ela, reiterando que o ideal é mesclar o atendimento físico com o online. “Os custos com a operação na web também são menores”, complementou.
O serviço de consultoria também passará a ser mais valorizado pelos clientes que buscam viagens personalizadas e roteiros exclusivos. “A assistência é muito importante para pacotes diferenciados. E as agências devem cobrar por isso”, disse a consultora, citando como exemplo destinos exóticos e viagens temáticas.
Outro investimento recomendado pela consultora é em tecnologia e otimização de processos. Ela explicou que em tempos de economia retraída as empresas podem se ver obrigadas a reduzir o número de pessoas. “A tecnologia ajuda a deixar os processos mais inteligentes e automatizados. Isso economiza tempo e reduz custos”, finalizou.
Samantha Chuva e Anderson Masetto