Nesta terça, dia 27 de setembro, é celebrado o Dia Mundial do Turismo. O M&E entrevistou o responsável pela pasta, ministro Carlos Brito, para saber o planejamento para os últimos três meses do ano e também uma análise do setor após dois anos de pandemia. Confira abaixo:
M&E – O preço das passagens aéreas subiu 77% em um ano. Como isso impacta no turismo doméstico e como é possível minimizar essa situação?
Carlos Brito – Temos adotado uma série de ações que buscam a melhoria do ambiente de negócios no setor aéreo e, consequentemente, a oferta de melhores serviços, com preços mais acessíveis, aos cerca de 90 milhões de passageiros que, em 2019, utilizaram este meio de transporte para deslocamentos pelo país. Entre estas ações posso citar, por exemplo, a introdução do combustível JET-A na aviação brasileira que reduz custos operacionais; a redução de alíquotas do Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) sobre o leasing de aeronaves; a abertura de mercado para companhias aéreas estrangeiras e a criação de um grupo de trabalho com a Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur) para discutir desafios, gargalos e melhorias para o setor de aviação.
“Aqui no Brasil a geração de empregos no setor de Turismo segue em ritmo de alta. No primeiro semestre deste ano foi registrado um aumento de 42,3% no número de vagas na comparação com o mesmo período de 2021, segundo dados do painel Monitora Turismo”
São ações que reafirmam o compromisso do governo brasileiro em continuar trabalhando, junto com o setor aéreo, para a redução no custo das companhias aéreas no país e, consequentemente, a queda no preço das passagens aéreas, levando cada vez mais brasileiros a voar pelo país e descobrir as belezas e os encantos do nosso Brasil. Os números mês após mês confirmam que o trabalho já tem importantes resultados. Somente nos primeiros sete meses do ano, os aeroportos brasileiros movimentaram mais de 45,6 milhões de viajantes em voos nacionais, uma alta de 52% na comparação com o mesmo período de 2021. Contudo, cabe registrar que segundo a legislação brasileira, as tarifas das companhias aéreas não são reguladas pelo governo. Vigora no Brasil o regime de liberdade tarifária.
M&E – Especialistas do setor têm alertado sobre a falta de mão de obra disponível para o turismo no Brasil. O mesmo tem ocorrido na Europa e Estados Unidos, segundo o WTTC. Como conquistar de volta os profissionais que abandonaram o setor durante a pandemia?
Carlos Brito – Aqui no Brasil a geração de empregos no setor de Turismo segue em ritmo de alta. No primeiro semestre deste ano foi registrado um aumento de 42,3% no número de vagas na comparação com o mesmo período de 2021, segundo dados do painel Monitora Turismo. Em outubro de 2021, o nosso setor já havia recuperado as perdas da pandemia, com um cenário positivo em quase todo o país. E segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), até o final do ano, o setor de serviços, onde o Turismo está inserido, deve criar cerca de 673 mil postos de trabalho.
Mas, sabemos que para conquistarmos uma mão de obra qualificada é preciso investir em capacitação. Nós, do Ministério do Turismo, entendemos que a qualificação é um dos principais pilares para o desenvolvimento do setor não só no país, mas em todo o mundo. Desta forma, temos ofertado diversos cursos de forma gratuita e, apenas no ano passado, qualificamos cerca de 34 mil alunos. Desta forma contribuímos para promover a inclusão social que, aliada ao crescimento da oferta de trabalho que já temos visto, proporcionará uma melhor distribuição de renda no nosso setor nos mais diferentes níveis econômicos.
M&E – Vai começar a maior temporada de cruzeiros da década. Em termos de infraestrutura, o país está preparado? O segmento de cruzeiros tem um enorme potencial de crescimento, como o MTur pode ajudar neste sentido?
Carlos Brito – Temos no Brasil uma das maiores faixas litorâneas, condições climáticas favoráveis à navegação e uma localização geográfica privilegiada, que nos permite apresentar as belezas de norte a sul do nosso país. O nosso potencial para ampliar o mercado nacional de cruzeiros é gigantesco e, sem dúvidas, a próxima temporada de cruzeiros para 2022/2023 será a maior da última década. O impacto esperado chega a R$ 3,8 bilhões, além da geração de 48 mil empregos. E o nosso país está pronto para receber muito mais navios do que os da última temporada.
O Brasil apresenta um dos maiores potenciais de desenvolvimento do turismo náutico no mundo, com cerca de 8.500 quilômetros de litoral, 35 mil quilômetros de rios e canais navegáveis e mais 9.260 quilômetros de margens de reservatórios de água doce, lagos e lagoas. Estes números demonstram, inclusive, o nosso potencial para tornar os cruzeiros marítimos uma atividade perene, ou seja, disponível durante todo o ano e temos trabalhado para isso.
Para estimular o segmento de turismo náutico lançamos em março deste ano um pacote de ações que incluem, por exemplo, isenção de impostos, liberação de créditos, investimento em infraestrutura e capacitação profissional. Especificamente na infraestrutura, nossa parceria com a Caixa Econômica Federal permitiu a disponibilização de R$ 23 milhões para que 150 empresas pudessem investir neste segmento. Além disso, realizamos visitas técnicas em Altér do Chão (PA), Natal (RN), Fernando de Noronha (PE), Peruíbe (SP) e Corumbá (MS) que, ao lado de outras três cidades que estão sendo definidas em um projeto-piloto, devem receber apoio para o desenvolvimento de projetos de infraestrutura de apoio náutico.
Essas são só algumas das ações que buscam fortalecer o mar e as águas interiores como elementos diferenciadores para o desenvolvimento do turismo e para o estímulo da atração de investimentos privados no segmento.
M&E – Os dados da PNAD Contínua Turismo revelam que o número de viagens realizadas no país caiu 41% entre 2019 e 2021. O senhor acredita que será possível reverter essa situação ao final de 2022?
Carlos Brito: As expectativas são as melhores possíveis e estamos caminhando para isso. Tanto que segundo a Sondagem Empresarial com Agências e Operadores de Turismo no Brasil, realizada por nós, cerca de 71% dos empresários brasileiros afirmaram acreditar na ampliação de pessoas interessadas em viajar no 2º semestre do ano. Outro dado que demonstra confiança na recuperação do setor é o fato de que 67,7% dos empresários estão otimistas em relação ao faturamento.
“Cerca de 71% dos empresários brasileiros afirmaram acreditar na ampliação de pessoas interessadas em viajar no 2º semestre do ano. Outro dado que demonstra confiança na recuperação do setor é o fato de que 67,7% dos empresários estão otimistas em relação ao faturamento”
Este otimismo é justificado pelos números crescentes no setor que registrou, apenas em julho, mais de 7,6 milhões de passageiros voando pelo país em viagens nacionais nos aeroportos, configurando o melhor resultado para julho em três anos. Temos observado ainda que diversos destinos turísticos têm registrado índices superiores àquele verificados antes da pandemia, caso de Bonito (MS). A cidade sul-mato-grossense teve um dos melhores meses de abril dos últimos sete anos, quando observamos o número de visitantes. Recife (PE) tem, mês a mês, superado o número de passageiros circulando em seu aeroporto. Os resultados comprovam o aquecimento do nosso setor que, nos pós-pandemia, está em plena recuperação.
M&E – Ainda sobre a PNAD Contínua Turismo, os brasileiros passam, em média, uma semana por ano viajando. O senhor considera esse tempo bom? Como é possível ampliar esse período?
Carlos Brito: É um tempo razoável, mas devemos observar diversas variantes; como o motivo da viagem, por exemplo; para chegarmos a uma conclusão de fato. Nós, do Ministério do Turismo, temos trabalho para aprimorar os nossos destinos turísticos, com obras de infraestrutura turística, ações de promoção, atraindo investidores para esses locais, ofertando cursos de qualificação para os profissionais do setor, entre outras medidas que impactam diretamente nesse tempo de viagem. Um destino bem estruturado, com profissionais qualificados e com atrativos conhecidos, são um atrativo para uma maior permanência dos nossos viajantes nacionais, proporcionando experiências únicas para fidelizar o turista ou ampliar os perfis.
Os dados da PNAD Contínua Turismo apontam que, no ano passado, o Brasil registrou 12,3 milhões de viagens, sendo a maior parte motivada por questões pessoais (85,4%), seguida de motivos profissionais (14,6%). As principais finalidades das viagens pessoais são para atividades de lazer (35,7%), seguidas de visitas a parentes ou amigos (32,5%).
M&E – Quais serão os grandes focos de trabalho do MTur nos últimos três meses do ano?
Carlos Brito: Nossa estratégia segue sendo a de dar continuidade ao trabalho que vem sendo feito no campo da melhoria da infraestrutura e da qualificação – ano passado qualificamos cerca de 34 mil profissionais e, neste ano, devemos oferecer pelo menos 30 cursos gratuitos. Já no campo da infraestrutura, concluímos quase três mil obras de infraestrutura turística em três anos e temos outras 2,4 mil em andamento por todo o país como melhorias de orlas, parques, espaços de eventos e praças públicas, por exemplo.
Também atuamos em prol do desenvolvimento de segmentos turísticos, por meio de iniciativas como o Experiências do Brasil Rural e o Programa de Turismo Gastronômico. Apoiamos ainda o nosso setor com a oferta de crédito, principalmente para capital de giro, entre tantas outras ações que seguem com força total. O fato é que o Ministério do Turismo não parou, mesmo com os impactos da pandemia de Covid-19, o óleo nas praias do Nordeste, a tragédia em Brumadinho, a guerra na Ucrânia…
Nosso objetivo é garantir experiências ainda melhores para viajantes brasileiros e, em parceria com Embratur, para turistas estrangeiros que chegam ao nosso país, atraindo um número cada vez maior de visitantes internacionais. Afinal, temos o melhor produto para oferecer ao mundo: o Brasil!