
Após recordes, Embratur explica como calcula os dados positivos do turismo (Unsplash/Matheus Camara da Silva)
Em uma entrevista ao M&E, a Embratur explicou como consolida seus dados, por exemplo, de gastos de turistas estrangeiros no Brasil, que registrou US$ 3,7 bilhões no 1º semestre de 2024, um recorde histórico. A gerência de Informação e Inteligência de Dados da Embratur, compartilhou, em comunicado, como é realizada a coleta e a divulgação dos dados que vem sendo divulgados ao mercado nas últimas semanas.
Após a Embratur divulgar dados recentes com informações sobre o maior número de gastos e turistas estrangeiros no primeiro semestre deste ano, a Associação Rio Vamos Vencer (RVV) alegou que a agência estaria manipulando dados. Em uma nota enviado ao mercado e assinada pelo presidente da RVV, Marcelo Conde, a associação acusava o texto da Embratur de utilizar valores nominais de 10 anos atrás, sem nenhum tipo de correção cambial ou monetária, para afirmar que o consumo dos turistas estrangeiros no Brasil alcançou um recorde histórico.
“A Embratur anuncia que, no primeiro semestre de 2024, US$ 3,7 bilhões (R$ 20,9 bilhões) foram injetados na economia do país por meio do turismo internacional e que o resultado ultrapassa o primeiro semestre de 2014, quando os viajantes deixaram US$ 3,5 bilhões (R$ 20,2 bilhões) na economia brasileira”, dizia o comunicado.
E, ao mesmo tempo, a entidade enfatizava que a Embratur “omite, de forma deliberada”, o fato de que os valores de 2014, quando corrigidos por qualquer índice de correção monetária, chegariam a R$ 41 bilhões atualmente, o dobro do montante divulgado na matéria. O mesmo para os valores em dólares que eram, na época, U$ 3,5 bilhões, e hoje são equivalentes a U$ 4,6 bilhões aplicando o CPI – o indicador da inflação americana -, que no período de 2014 até 2023 totalizou 32%.
Para Marcelo Conde, “a grande fragilidade é que o texto utiliza valores de 10 anos atrás sem corrigir esses números pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que foi mais de 100% neste período, e os compara com números atuais. Considerando a inflação ao longo deste tempo, o valor apresentado é um grande retrocesso e não um aumento histórico”.
Ainda segundo o dirigente da RVV, os dados ‘mascaravam’ os baixos números de crescimento, tanto de turistas quanto de receita.
Para esclarecer, a Embratur se posicionou sobre o caso
Em relação ao posicionamento do presidente da RVV, Marcelo Conde, a Embratur observa que há ‘erros de cálculo’. Segundo a Embratur, os cálculos para chegar aos dados de receita internacional divulgados não saem dos Estados. São dados que o Banco Central gera todo mês. Logo, a fonte oficial é o Banco Central. “O Banco Central divulga esse dado em dólar nominal. Ou seja, ele faz o levantamento, tem a rubrica (receitas com o turismo internacional) e divulga. A Embratur pega esse valor em dólar e converte para real”, explica o comunicado da Embratur.
Quanto à crítica e discussão levantada pela associação sobre um erro de cálculo básico, vale explicar o seguinte: “eles pegaram o valor em dólar, converteram para real e depois colocaram em cima o IPCA. Um erro”.
“Você tem que comparar o resultado de 2014 com o resultado de 2024, com o dólar em cada época”
E acrescenta: “Este ano, a Embratur fez a conversão toda certinha. Se pegar dois IPCA, dois índices de inflação e IPCA e GPM, está certinho. O erro da RVV foi utilizar um dado bruto. Pegou o valor de 2024 e jogou IPCA lá de trás e isso distorceu o resultado. Você tem que comparar o resultado de 2014 com o resultado de 2024, com o dólar em cada época. A Embratur exporta serviço e produto. E quando o dólar está mais alto, isso termina tornando o nosso produto mais competitivo, a rentabilidade maior. Então se eu exporto um serviço, quando o dólar deu de 60, o resultado vai ser menor do que quando exporto ao dólar 5, como está agora. Só para pontuar que não tem erro de cálculo”, finaliza o comunicado.
2014 versus 2024
A Embratur divulgou também um comparativo de resultado, considerando valor do dólar em 2014 e 2024, bem como o IPCA, usando como fonte o Banco Central, que disponibiliza todo mês o resultado das receitas com o turismo internacional no valor nominal do dólar.
Gastos dos turistas internacionais no Brasil:
Valores nominais do primeiro semestre
2014: US$ 3,6
2024: US$ 3,7
Valores nominais em R$ com a cotação do dólar do ano indicado:
2014: R$ 9,1 bilhões (US$ 1 = R$ 2,60)
2024: R$ 20,9 bilhões (US$ 1 = R$ 5,61)
Valores corrigidos pelo IPCA (IBGE) em R$
2014: R$ 16,2 bilhões
2024: R$ 20,9 bilhões
Na matéria publicada recentemente pela Embratur, a cotação atual para dólar de 2014 e 2024:
2014: R$ 20,2 bilhões (US$ 1 = R$ 5,61)
2024: R$ 20,9 bilhões (US$ 1 = R$ 5,61)
O Banco Central divulga mensalmente os resultados nominais das Estatísticas do setor externo, com valores em US$, justamente para se acompanhar, como um termômetro, as variações de receitas provindas de gastos dos turistas internacionais no Brasil.
Transparência – A Embratur garantiu ainda que tem compromisso com a transparência e a responsabilidade no processamento e geração de dados, algo estratégico para o fortalecimentos do setor turístico brasileiro. Todas as informações produzidas pela Gerência de Informação e Inteligência de Dados são públicas e podem ser acessadas através do site. O portal conta com seis painéis de dados.
A agência utiliza fontes e metodologias de dados nacionais, como Banco Central, Polícia Federal, ANAC, IBGE, ANTT e Ministério do Turismo, além de ferramentas internacionais como ForwardKeys, ONU Turismo, Conselho Mundial de Viagens e Turismo, Oxford Economics e GlobalData, usadas pelos principais órgãos de turismo no mundo.