Um erro sem precedentes afetou sistemas bancários, hospitais, players do Turismo, como parques de diversões e o setor aéreo mundial nesta sexta-feira (19), após uma falha de atualização do sistema Falcon da empresa CrowdStrike nos computadores do sistema da Microsoft. Para entender o que está por trás desse acontecimento, que cancelou mais de cinco mil voos, segundo a Cirium, e afetou as viagens de milhares de passageiros, o MERCADO & EVENTOS buscou especialistas.
“Sentimos profundamente o impacto que causamos aos clientes, aos viajantes, a qualquer pessoa afetada por isso, incluindo nossa empresa. Muitos dos clientes estão reiniciando o sistema e ele está se tornando operacional. À medida que resolvemos este incidente, você tem meu compromisso de fornecer total transparência sobre como isso ocorreu e as medidas que estamos tomando para evitar que algo assim aconteça novamente”, disse Kurtz.
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A CrowdStrike (CRWD.O), causadora desse “caos mundial”, viu suas ações na Bolsa de Nova York despencarem mais de 11% na data, chegando a US$ 304,96, diante do fato e seus desdobramentos. A pane no sistema foi confirmada pela manhã (19) pelo CEO da empresa, George Kurtz, em sua conta oficial no Twitter, descartando ataques de hackers.
Segundo ele, o defeito foi encontrado “em uma única atualização de conteúdo para hosts do Windows” que afetou os clientes da Microsoft, companhia que também teve suas ações registrando queda de 0,8% na Bolsa, mesmo oferecendo apoio aos clientes afetados.
“A CrowdStrike já teve ação diminuída até 19% durante o período, e as ações da Microsoft também já chegaram a cair quase 3%. Outras empresas de tecnologia também estão acompanhando com uma queda significativa”, disse o Mestre em Governança Corporativa e especialista em Recuperação Judicial, Marcello Marin.
A analista sênior de software da D.A. Davidson analisou a situação, apontando que “este evento é um lembrete de quão complexos e entrelaçados são nossos sistemas de computação globais e quão vulneráveis eles são”. Vale ressaltar que a CrowdStrike, embora não seja tão conhecida pelo público em geral, tem mais de 20 mil clientes em todo o mundo, incluindo grandes corporações, como a Amazon.
Quem paga a conta no Turismo?

Ilmar Muniz professor universitário de Direito Constitucional e Penal, e Especialista em Direito do Consumidor (Divulgação)
Muito provavelmente, a falha, que já está sendo chamada de a “maior da história”, terá seus ônus contabilizados em breve, e por isso fica a pergunta: “quem paga a conta?”. Como fica o passageiro que não pôde embarcar, perdeu diária em hotel e passeio marcado?
“O consumidor deve recolher o máximo de provas de todas as informações pertinentes ao ocorrido. No caso de cancelamento de passeios ou outras atividades, o consumidor deve guardar essas informações e apresentar provas junto às empresas envolvidas”
“Como trata-se de relação de consumo, o risco pela prestação de serviço é exclusivamente das companhias aéreas. Nesse caso, comprovado o prejuízo tanto de dano material como também de dano moral, cabe o ressarcimento e a indenização pelas companhias ao consumidor.
O consumidor deve recolher o máximo de provas de todas as informações pertinentes ao ocorrido. No caso de cancelamento de passeios ou outras atividades, o consumidor deve guardar essas informações e apresentar provas junto às empresas envolvidas.
Além disso, é importante demonstrar os prejuízos morais sofridos, como a perda das férias, a impossibilidade de visitar parentes ou outros transtornos semelhantes. Dessa forma, o consumidor pode solicitar judicialmente não apenas a devolução dos valores pagos, mas também a compensação pelos danos morais, devido à perda de oportunidades ou planos previamente estabelecidos”, disse o advogado e professor universitário de Direito Constitucional e Penal, e Especialista em Direito do Consumidor, Ilmar Muniz.
“Toda empresa que teve prejuízo em decorrência da prestação de serviço de outra empresa e por sua falha poderá ingressar com a ação judicial para se discutir todo o prejuízo financeiro e também o ressarcimento do período que ficou sem funcionamento”
Diante deste cenário, certamente as empresas, principalmente do setor aéreo, vão se mobilizar para encontrar uma outra solução, que não aumente ainda mais as despesas de operação e culminem em prejuízo. Portanto, o MERCADO & EVENTOS buscou saber “qual a posição que poderá ser adotada pelas companhias lesadas pela falha da CrowdStrike”.
“Toda empresa que teve prejuízo em decorrência da prestação de serviço de outra empresa e por sua falha poderá ingressar com a ação judicial para se discutir todo o prejuízo financeiro e também o ressarcimento do período que ficou sem funcionamento. Então, nesse caso, as companhias aéreas poderiam ingressar judicialmente para requerer o prejuízo constante”, afirma Ilmar.
CrowdStrike e Microsoft: falha ou negligência?
O impacto do apagão global demonstrou a dependência tecnológica das infraestruturas críticas, ressaltando a necessidade de maior resiliência e segurança. Investigações poderão determinar se a CrowdStrike ou a Microsoft poderiam ter evitado a falha. Segundo Marcelo Branquinho, CEO da empresa de tecnologia TI Safe, a recuperação dos sistemas pode ser lenta e as máquinas afetadas pela “tela azul da morte” necessitam de correção manual.
“O problema aqui é que as máquinas estão com tela azul, o que impede que se conectem para receberem a próxima atualização automaticamente. Isso significa que alguém terá que fazer a correção manualmente em cada máquina, e este pode ser um processo lento, variando de empresa para empresa”
“O problema aqui é que as máquinas estão com tela azul, o que impede que se conectem para receberem a próxima atualização automaticamente. Isso significa que alguém terá que fazer a correção manualmente em cada máquina, e este pode ser um processo lento, variando de empresa para empresa. Os dispositivos que receberam essa atualização ruim ficarão sem proteção contra malware por algum tempo, aumentando a vulnerabilidade dos sistemas”, analisa o executivo.
“A cibersegurança deve ser uma prioridade constante para garantir a continuidade operacional e a segurança dos sistemas”
O especialista contextualiza, dizendo que no passado, quando empresas lançaram atualizações com problemas, a própria desenvolvedora criou uma correção. “Este incidente serve como um lembrete da necessidade de testar rigorosamente todas as atualizações de software antes de serem liberadas, especialmente em sistemas críticos como os da aviação e os bancários. A cibersegurança deve ser uma prioridade constante para garantir a continuidade operacional e a segurança dos sistemas”, complementa.
Ao M&E, os especialistas apontaram, que episódios desta natureza não são comuns e sua repetição dependerá da conduta das empresas tecnológicas na condução do teste de segurança e funcionalidade das tecnologias implementadas.
“Tela azul” no turismo
Os aeroportos como Viracopos (Brasil), Edimburgo (Escócia), Hong Kong (Hong Kong), Changi (Cingapura), Nova Délhi (Índia), Madrid-Barajas (Espanha), Schiphol (Holanda), Berlim (Alemanha), Gatwick (Reino Unido) e Edimburgo (Escócia) enfrentaram problemas. Companhias aéreas como Azul, Ryanair, Delta Air Lines, Air India, American Airlines, United Airlines e Iberia foram afetadas.
Pela manhã, a Azul alertou para possíveis atrasos devido a uma falha no sistema de reservas e recomendou que os passageiros cheguem mais cedo aos aeroportos. “A Azul informa que a intermitência massiva em sistemas globais de Tecnologia da Informação gerou impacto diretamente em sistemas de diversos setores, inclusive na operação da aviação mundial.
Os nossos clientes afetados estão recebendo toda a assistência necessária, conforme prevê a Resolução 400 da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A orientação é que os clientes que possuem voo hoje verifiquem o status da sua reserva no app ou site da Azul antes de se dirigir ao aeroporto”, disse em nota ao M&E.
A Gol e a Latam, apesar de não serem significativamente afetadas, também sugeriram que os passageiros verifiquem o status dos voos. As companhias também falaram ao MERCADO & EVENTOS, esclarecendo que “existem dois tipos desse software e o que causou o apagão global é utilizado pela maioria das empresas, já a Gol usa o outro, que não teve o problema”.
“Se as empresas no Brasil têm políticas de segurança cibernética mais robustas, atualizações de software mais frequentes ou práticas de segurança mais avançadas, isso pode ter contribuído para mitigar o impacto do incidente”
A Latam reiterou “seu compromisso com a segurança como um valor inegociável em suas operações, buscando sempre proteger a integridade e o bem-estar dos passageiros, e reforçando que continuará acompanhando de perto a situação”. Vale ressaltar que, até o momento, não há informações sobre vazamento de dados e exposição de informações confidenciais.
“A infraestrutura de TI e o uso de tecnologia podem variar significativamente entre países. Alguns podem ter implementações diferentes de software, configurações de segurança, ou até mesmo estar menos integrados a certos serviços ou plataformas que foram afetados pelo incidente específico.
Ainda, a resposta e as medidas preventivas adotadas por empresas e organizações locais podem diferir. Se as empresas no Brasil têm políticas de segurança cibernética mais robustas, atualizações de software mais frequentes ou práticas de segurança mais avançadas, isso pode ter contribuído para mitigar o impacto do incidente”, aponta Allan de Alcântara, engenheiro de computação e sócio-proprietário na FrankFox Informática.