
Regra de 2016 afetou a estratégia operacional das companhias aéreas, fazendo com que priorizassem diferentes tamanhos de aeronaves e a voar rotas mais curtas (Divulgação/Pixabay)
Uma pesquisa norte-americana revelou que uma regra de 2016 do Financial Accounting Standards Board (Conselho de Normas de Contabilidade Financeira) tornou vantajoso para as companhias aéreas de capital aberto escolherem alugar suas aeronaves, já que diminui sua capacidade ociosa e o desgaste de sua frota.
De autoria do professor Mohan Venkatachalam, da Fuqua School of Business, o estudo examinou os efeitos do ASC 842, uma regra que atualizou como as empresas devem registrar seus “aluguéis operacionais” em seus relatórios financeiros.
Normalmente, as normas contábeis fornecem informações sobre a empresa aos investidores. “Elas não deveriam mudar a forma como as empresas fazem negócios, mas, surpreendentemente, para as companhias aéreas abertas, descobrimos que isso foi o que aconteceu”, destacou Mohan Venkatachalam.
Os pesquisadores descobriram que a nova regra afetou profundamente a estratégia operacional das companhias aéreas, fazendo com que elas priorizassem diferentes tamanhos de aeronaves e a voar rotas mais curtas, tipos de decisões operacionais que impactam, entre outras coisas, o envelhecimento da frota e seus requisitos de manutenção.
Antes da regra de 2016, as empresas abertas se beneficiavam classificando equipamentos, veículos ou edifícios que alugavam como “leasing operacional”. Quando alugavam equipamentos para uso a longo prazo, teoricamente tinham que registrar como “ativos”, correspondendo a um valor igual na seção de “passivos” do balanço patrimonial.
“No caso de um indivíduo, pense na hipoteca que você tem que pagar pela casa. Você tem um ativo, a casa, mas também tem um passivo, a hipoteca, o que faz você parecer mais endividado”, exemplificou Venkatachalam.
As empresas de capital aberto não gostavam de mostrar maior alavancagem. Além disso, o aumento na coluna de ativos também impactaria a métrica de “Retorno sobre Ativos” (ROA) das empresas, um indicador importante de sua lucratividade. “Se você tem mais ativos em seus balanços, o denominador aumenta, o que significa que seu ROA diminui”, afirmou o professor. “Nessas circunstâncias, as rotas mais curtas garantem uma maior utilização da aeronave. Descobrimos que as distâncias de voo diminuíram em 140 milhas por partida, em média”, completou.
De acordo com o professor, as aeronaves de tamanho médio, que são mais adequados para as rotas mais curtas — incluindo modelos como o Boeing 737 e o Airbus A319 — têm o benefício adicional de serem as aeronaves com maior liquidez no mercado, devido à alta demanda. “Se eu estou preso com um avião, prefiro comprar um que eu possa vender mais facilmente”, disse.
Implicações da nova regra
Apesar dos ajustes estratégicos implementados pelas companhias aéreas, os pesquisadores descobriram que a flexibilidade operacional reduzida após a regra se traduziu em quatro a cinco assentos vazios adicionais por voo para uma aeronave de médio porte.
“Imagine que o número médio de assentos em uma aeronave de tamanho médio seja cerca de 200. Quatro a cinco assentos perdidos representam muita receita perdida. Estamos falando de uma média de $250 — são cerca de $1200 por voo. E imagine um voo curto entre Nova York e Boston, com talvez oito voos de ida e volta por dia. Multiplique isso por 360 dias e são vários milhões de dólares em receita perdida”, disse Venkatachalam.
Outra implicação da estratégia de rotas mais curtas é o potencial nível mais alto de desgaste da frota, observaram os pesquisadores. “Se você vai pousar a cada três horas, seus pneus se desgastarão mais cedo, enquanto se estiver indo para longas distâncias, estará pousando uma vez por dia, no máximo. Então, obviamente, mais desgaste significa mais manutenção, mais substituições”, completou.
Os pesquisadores também descobriram que, ao mudar para compras, a idade média dos aviões aumenta, à medida que as empresas mantêm as aeronaves compradas por mais tempo.
Esses resultados impactaram as companhias aéreas abertas, mas não as de capital fechado. As empresas negociadas em bolsa têm que divulgar suas demonstrações financeiras, que são a principal fonte de informação para os acionistas. “Se de repente você tem mais ativos e passivos no seu balanço patrimonial, todos os investidores vão perguntar, ‘o que aconteceu?’” disse.
Os gerentes de empresas abertas tinham mais a perder com o novo padrão contábil e mudaram sua estratégia de negócios.
“A sabedoria convencional é que as empresas tomam decisões de negócios que acham certas para seus negócios. A contabilidade deve simplesmente refletir o que as empresas fazem. O que está acontecendo, em vez disso, é que as empresas estão mudando a forma como fazem negócios com base na contabilidade. Os relatórios financeiros são importantes, não apenas para os investidores, mas também para os gerentes”, finalizou o autor do estudo, Mohan Venkatachalam.