
O coordenador de Transporte Aéreo, Marítimo e Terrestre da Embratur, Philipe Karat, explicou o passo a passo de como funcionam essas negociações para atrair voos internacionais (Divulgação/Inframerica)
A Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur) sempre foi considerado um ator fundamental no trabalho de captação de voos internacionais para o Brasil. A agência apoia aeroportos e poder público, estaduais e municipais, sempre com ações de promoção e inteligência estratégica para atrair novos voos para o Brasil. Garantir a ampliação da oferta, em 2024 e 2025, é uma meta estratégica e fundamental para ampliar o número de estrangeiros que visitam o nosso país.
Mas, como é o trabalho para atrair os novos voos? O coordenador de Transporte Aéreo, Marítimo e Terrestre da Embratur, Philipe Karat, explicou o passo a passo de como funcionam essas negociações, que envolvem dados, inteligência, promoção internacional e articulação com aeroportos e poder público nos estados e municípios. Para se ter uma ideia, na Routes América, feira do segmento realizada entre os dias 21 e 23 de março deste ano, nos Estados Unidos, Karat iniciou o diálogo com 32 companhias aéreas.
Como uma companhia aérea decide abrir uma nova rota internacional?
As companhias olham como estão as vendas de passagens futuras, dados das buscas que os passageiros têm feito nos buscadores e agregadores, as tendências de consumo e também a inteligência local que possuem nos países consolidando assim os aspectos de demanda. Do outro lado vem os aspectos de oferta. Quantos aviões está recebendo? Há pilotos para voar todos eles? O aeroporto possui capacidade necessária? Por vezes a companhia compra muitas aeronaves e avião e precisa voar para algum lugar. Então, mesmo não tendo a demanda, ela vai trabalhar em criar a demanda para aquela rota.
O aeroporto, que diferença faz nessa decisão?
Todas as concessionárias brasileiras tem uma equipe de desenvolvimento de rotas. Uma companhia aérea tem o mundo inteiro pra voar. Só no Brasil são quase duzentos aeroportos habilitados. Então, são sempre apresentadas oportunidades de negócio para essas empresas, com dados do mercado, perfil de consumo, informações que mostram que existe fluxo de turistas e incentivos financeiros. Às vezes aquela pesquisa que você responde para ganhar o wi-fi gratuito no aeroporto faz a diferença.
E a Embratur, como atua para atrair novos voos internacionais com destino ao Brasil?
O papel da Embratur é catalisar as negociações que já estão sendo conduzidas pelos estados e pelos aeroportos, apoiar cada uma dessas rotas a ser desenvolvida, a gerar demanda para elas. Na Embratur, há mais dados, então, dá para entregar mais inteligência para as companhias aéreas, além das ferramentas de promoção, como as press trips, as famtours e as ações de marketing direto. Então, se tem uma empresa aumentando voos do Reino Unido, os esforços serão concentrados neste mercado.
E como acontece esse trabalho com os estados?
O diálogo com os aeroportos e com os estados será permanente, porque não há capacidade para focar em tudo ao mesmo tempo a toda hora. As secretarias municipais e estaduais também entram com ações de promoção, também têm suas estratégias com seus públicos-alvo bem definidos, e a Embratur entra para apoiar. Está no radar da agência, por exemplo, atuar em parceria com os estados para trazer novos voos para o Norte e Nordeste, que estão mais próximos geograficamente do hemisfério Norte.
Qual o potencial de crescimento do Brasil?
O país tem um potencial gigantesco. O oceano azul é o turismo internacional. E a aviação no mundo está num período de retomada. As companhias aéreas aposentaram os aviões velhos, que gastavam muito, durante a pandemia, e não voltaram a usar essas aeronaves. E, agora, estão retomando do zero, abrindo o mapa e olhando para todas as possibilidades de rotas, não necessariamente retomando aquilo que existia antes da pandemia. Um desafio que precisamos enfrentar é o da sazonalidade.
O inverno europeu é uma oportunidade para o Brasil, é um período em que devemos ter anúncios de novas rotas. Quando vem o verão europeu, é aí nosso maior desafio vender o Brasil. O europeu quer ir para os EUA, e o americano ir para a Europa. A gente tem que disputar esse mercado, é o trimestre que aqui menos chove, das temperaturas mais amenas. A gente precisa criar produtos de baixa temporada, criar demanda para manter a oferta de voos ao longo do ano.
E como garantir competitividade no preço?
A questão de preço é equilíbrio de oferta e demanda. Quanto mais voos, menor será o preço. Por isso, é preciso trabalhar na geração de oferta de assentos antes, ou em conjunto, ao trabalho de aumentar o interesse do estrangeiro pelo Brasil. Se apenas o segundo for feito, o turista acaba indo para a Tailândia, pela metade do preço. Criando a oferta primeiro, abaixam-se os preços e pode-se ter uma atividade promocional muito mais eficaz.
Qual a importância da conectividade, de ter aeroportos com muitos voos regionais para atrair voos internacionais?
Se um passageiro sai de Londres e vem até o Rio de Janeiro, para subir para Fortaleza, ele usa dois assentos em dois voos. Um desses assentos poderia ser usado por um brasileiro indo para Fortaleza. E para o turista é economia de tempo e conforto ir num voo direto para o seu destino. Então, o papel da Embratur é identificar onde estão as oportunidades de voo direto para destravar esse mercado. Mas a conectividade e os hubs são muito importantes, porque enquanto não há demanda para sustentar um voo direto, as conexões ocupam esses espaços. É por isso que os aeroportos com voos internacionais se desenvolvem muito mais quando têm alimentação relevante de voos domésticos.