
A decisão, que será publicada no Diário Oficial da União, portanto, mantém o padrão de franquia de bagagem que já é comercializado atualmente (Antonio Cruz/Agência Brasil)
Após ser aprovado na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, o fim da cobrança por bagagens despachadas foi vetado pelo presidente Jair Bolsonaro, como informou a secretaria-geral da presidência. A decisão, que será publicada no Diário Oficial da União, mantém o padrão de franquia de bagagem já comercializado atualmente, sem despacho gratuito de bagagem de até 23 quilos em voos nacionais e até 30 quilos em voos internacionais.
Bolsonaro atendeu entidades como Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), a Associação Latino-Americana e do Caribe de Transporte Aéreo (Alta), a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) e a Junta de Representantes das Companhias Aéreas Internacionais do Brasil (Jurcaib) que pediam o veto ao retorno da franquia obrigatória de bagagem. De acordo com a Abear, seria um retrocesso para o setor.
A volta do despacho gratuito de bagagens foi vetada, pois a proposição aumentaria os custos dos serviços aéreos e o risco regulatório, o que reduziria a atratividade do mercado brasileiro
Entre alguns dos motivos apresentados contra o retorno da franquia obrigatória de bagagem, o documento destaca que a adoção da medida desalinharia o Brasil das melhores práticas internacionais. Além disso, o atual modelo de cobrança pela franquia permite uma classe tarifária mais barata para quem voar sem bagagem. Anteriormente, o valor do despacho era diluído no preço das passagens de todos os passageiros, mesmo se alguém só estivesse com um volume de mão a bordo.
Foi este motivo que fez com que Bolsonaro vetasse o projeto. Segundo a secretaria-geral da Presidência, a volta do despacho gratuito de bagagens foi vetada, pois “a proposição aumentaria os custos dos serviços aéreos e o risco regulatório, o que reduziria a atratividade do mercado brasileiro a potenciais novos competidores e contribuiria para a elevação dos preços das passagens aéreas”.
Abear considerava volta do despacho gratuito como um retrocesso
Eduardo Sanovicz, presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) já tinha afirmado que a retomada da gratuidade no despacho de bagagens seria uma decisão “ruim e injusta”, pois a ausência de cobrança pontual causaria uma divisão dos custos entre todos os passageiros, sejam aqueles com volumes para despacho ou não.
“No modelo do século XX, que hoje só é praticado em dois países do mundo, Coreia e Cuba, o preço da bagagem é diluído na tarifa do bilhete de todos os passageiros. Ele é incorreto, porque fecha o mercado e é injusto porque faz com que você pague o valor da carga de outro passageiro”, afirmou.
Ainda segundo o presidente da Abear, a volta da franquia obrigatória do despacho de bagagem também afastaria o interesse das empresas aéreas low-cost de operar no país. Logo após a implementação da cobrança pela franquia de despacho de bagagens, em 2017, ao menos oito empresas estrangeiras, sendo sete “low-cost”, demonstraram interesse e começaram a operar no país.
Iata temia graves consequências para o mercado
A Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) afirmou que a decisão representaria um retrocesso na evolução do setor no país e impactariua diretamente os passageiros. “As empresas aéreas seriam impedidas de oferecer produtos diferenciados a seus clientes, que deixarão de ter a possibilidade de pagar apenas pelos serviços que necessitam. Atualmente, os viajantes que optam por fazer o despacho de suas bagagens podem fazê-lo mediante o pagamento de uma taxa, isentando àqueles que não precisam fazer uso deste serviço”, informou.
“Um entendimento equivocado induz a população a achar que, em algum momento, houve gratuidade da bagagem, quando o que existiu foi uma divisão de custos entre todos os passageiro”
Esta emenda, segundo a Iata, também reduz a atratividade do mercado brasileiro, especialmente num momento em que a indústria está se recuperando da pandemia e o país busca atrair investimentos estrangeiros ao setor de aviação. Outro problema é a insegurança jurídica causada por esta medida, que pode desencorajar as empresas aéreas a investirem mais no país.
“A emenda à MP é problemática em sua totalidade e afeta diversas partes, a começar pelo passageiro. Um entendimento equivocado induz a população a achar que, em algum momento, houve gratuidade da bagagem, quando o que existiu foi uma divisão de custos entre todos os passageiros. Hoje, o passageiro que não deseja despachar bagagem, não paga por esse serviço — solução que permite que cada um pague pelo serviço que melhor lhe convir, portanto, mais justa”, disse a Iata.