As declarações do secretário municipal de Turismo do Rio, Antônio Pedro Figueira de Mello, sobre a falta de preparação da cidade para receber deficientes, repercutiram mal e a Riotur se desculpou, em nota, afirmando que o secretário não se expressou direito. Ainda assim, houve uma forte reação entre ativistas de defesa dos direitos dos deficientes.
Superintendente do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD), Teresa D’Amaral, fez críticas à declaração do secretário de que o público que vem para um evento como a Copa não é formado por deficientes. “A declaração é uma afirmação de discriminação explícita. Implica no reconhecimento de que a cidade não está preparada nem para seus próprios cidadãos”, afirmou Teresa.
A superintendente, que estuda levar o caso à Justiça, disse que o Rio não está preparado para receber as Paralimpíadas de 2016. “O Rio é uma cidade totalmente hostil para a pessoa com cadeira de rodas, surda e cega. A surda não encontra atendimento apropriado nos serviços da cidade. No Rio, não há sinais para cegos. E o direito de ir e vir do cadeirante não pode ser exercido porque a cidade não tem acessibilidade arquitetônica”, explicou.
Já o presidente da Associação dos Deficientes Visuais do Estado do Rio, Márcio Aguiar, também não poupou críticas a Antônio Pedro. “Todo tratamento diferenciado é caracterizado como discriminação. Você não pode dizer que o deficiente não é o público de um evento a priori. Isso vai na contramão do que se pensa em relação à inclusão e cidadania. Foi uma bola fora do secretário”, declarou Márcio.
As declarações de Antônio Pedro não se limitaram aos deficientes. O secretário também afirmou que, embora a cidade vá receber durante a Copa 400 mil turistas estrangeiros, não é importante que os taxistas sejam treinados para falar inglês. Para ele, o domínio da língua estrangeira não é uma obrigação a esses profissionais. “Acho que os taxistas não precisam ter essa preparação toda. Nós estamos no Brasil. Nossa língua é o português. Temos que saber afirmar a nossa língua também. As pessoas aqui não têm que saber inglês, elas têm que saber se comunicar, por isso criamos cartilhas para ajudar os taxistas”, afirmou Antônio.
Na terça (27), o próprio secretário afirmou que a prefeitura vai instalar até o início do Mundial mais de 3.700 peças de sinalização, entre adesivos, mobiliário urbano e torres, com informações em português, inglês e espanhol. Além disso, 1.500 voluntários vão circular pela cidade distribuindo mapas, folhetos e guias com orientações aos turistas, e 150 guias bilíngues vão trabalhar no entorno do Maracanã. Segundo Antônio Pedro, o Rio deve movimentar mais de R$ 1 bilhão durante a Copa do Mundo.
Lia Bianchini
O Globo