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Roberto Rotter; presidente do Comitê de Gestão do Grupo Pestana para a América do Sul; tomou posse como novo presidente do Fórum dos Operadores Hoteleiros do Brasil (Fohb) no final de novembro. Na ocasião; ele ressaltou que dará continuidade às gestões anteriores; que classificou como excelentes. Em sua primeira entrevista na nova função; o executivo disse acreditar que o setor hoteleiro está pronto para receber a Copa do Mundo; em 2014 e os Jogos Olímpicos; em 2016. Rotter destacou que a oferta existente irá suportar de forma satisfatória toda a demanda e que em termos de qualificação de mão de obra; o setor já está se preparando.
Na opinião de Rotter; o crescimento da economia e a ascensão da classe C ainda não tiveram um grande impacto no setor de turismo. Ele acredita que neste momento há um grande estímulo ao consumo de bens duráveis e por isso; para a hotelaria se beneficiar é necessário competir com outros setores e ao mesmo tempo não permitir grandes quedas nas tarifas médias. “Hoje não se compra hotéis em dez vezes; com exceção de algumas operadoras; mas daqui a pouco poderemos ter isso. Temos que buscar esta rentabilidade”; disse. Outro fator citado pelo novo presidente do Fohb é o câmbio e a valorização do Real. Para Rotter; isso torna as viagens internacionais muito mais atrativas e faz com que o turismo interno não se desenvolva como deveria. Veja a entrevista:
MERCADO & EVENTOS – Quais são os planos e expectativas para essa nova gestão no Fohb?
Roberto Rotter – Vamos dar continuidade a um trabalho que vem sendo desenvolvido nas gestões anteriores. Como entidade; o Fohb tem se fortalecido bastante. Conseguimos um bom espaço junto ao poder público; às demais entidades do setor e aos associados; trazendo benefícios e valor agregado a cada um deles. Dentro dos eixos estabelecidos pelo próprio Fohb; a ideia é reforçar principalmente a área de relações institucionais junto ao poder público como Câmara dos Deputados; Comissão de Turismo da Câmara; Conselho Nacional de Turismo e demais entidades do setor. Vamos também estar mais presentes em discussões de legislação que afetam diretamente a nossa área. Pretendemos trabalhar mais em função do Estatuto da Criança e do Adolescente; pois existem alguns aspectos que ainda estão obscuros. Para a aviação há uma regra e para a hotelaria há outra. Na parte de responsabilidade social e recursos humanos; nós temos um trabalho grande para fortalecer a capacitação de mão de obra. Ao longo da gestão anterior foi desenvolvido um trabalho; muito bem feito; que visa estruturar e capacitar; principalmente o pessoal de base dos hotéis. Nem todas as redes têm uma mesma estrutura de qualificação e isso vai proporcionar que desde as maiores até as menores redes tenham um standard mínimo e necessário para que tenhamos hotéis que apresentem ao cliente uma qualidade superior. Já que estamos falando em Copa do Mundo e Jogos Olímpicos no Brasil; teremos um volume grande de estrangeiros e existem aspectos importantes a serem observados para que haja um nivelamento no setor.
M&E – Por falar em Copa e Olimpíadas; como o setor está se preparando para esses eventos? Quais são os desafios a serem enfrentados nos próximos anos?
Roberto Rotter – Em termos de capacidade; a grande maioria das praças está totalmente preparada para isso. É uma desinformação esta questão de que na hotelaria não há leito disponível para esses eventos. Pelo contrário. Se pegarmos o exemplo de Salvador; que é uma cidade-sede; o parque existente hoje já é mais do que suficiente para atender a Copa do Mundo e mesmo assim ainda existem projetos em andamento. Pode ser que em uma ou outra cidade ainda falte pouca coisa; mas temos que entender que a Copa do Mundo em determinadas praças é uma questão de uma semana; pois serão apenas alguns jogos da primeira fase e acabou. Aí se constrói uma oferta para atender esta única semana em destinos que não terão grande movimento pré e pós eventos para fazer turismo. Isso não pode acontecer. Tem que se tomar muito cuidado com essas cidades que já têm um parque hoteleiro. Temos que analisar o legado positivo e negativo que podemos ter. É um tema sensível; mas acredito que cidades como São Paulo; Rio de Janeiro; Salvador e Curitiba estão totalmente capacitados para receber esses eventos.
M&E – Isso em termos de capacidade. Agora como o setor está se preparando na questão dos serviços e mão de obra?
Roberto Rotter – Claro que precisamos melhorar. Em função desses novos investimentos que chegam e do crescimento da economia há uma migração de mão de obra para vários setores. O mercado está aquecido como um todo e não há mão de obra qualificada suficiente.
M&E – No seu discurso de posse no Fohb; você citou o câmbio como um dos fatores que prejudica a hotelaria e o turismo. Fale um pouco sobre como isso afeta o setor.
Roberto Rotter – Na realidade este é um tema recorrente. Com a desvalorização do dólar e valorização do real; uma viagem internacional para República Dominicana; por exemplo; passa a ser mais interessante financeiramente do que ir a outro um destino brasileiro. Primeiro existe o fator da novidade e a possibilidade de descobrir um novo destino. Uma opção que antes não existia. Existem também os cruzeiros; que nós entendemos ser uma atividade turística tão importante quanto a hotelaria; que convive muito bem com eles (os cruzeiros) em outros países e pode também conviver conosco; mas hoje passa a ser concorrente em função do dólar. Quando se diz que a hotelaria está cara; na realidade não é isso. O câmbio que caiu e fez com que a hotelaria ficasse mais cara. Mas ainda estamos longe da recuperação de uma diária que tínhamos no início da década de 1990.
M&E – Nos dados referentes a janeiro e outubro deste ano; a hotelaria de luxo foi o segmento que mais cresceu. Como explicar isso ao mesmo tempo em que só se fala do crescimento da chamada classe C?
Roberto Rotter – Primeiro que a base de comparação é bem diferente; pois o volume de hotéis de luxo é muito menor do que o de econômicos. Na verdade o que está acontecendo com este segmento no Brasil é uma recuperação da diária média que existia no passado e eles perderam. Tanto com a crise como pela grande oferta em algumas praças; o mercado acabou se nivelando por baixo.
M&E – E como a classe C está afetando o mercado?
Roberto Rotter – Quanto a ascensão da classe C; não há dúvida que é um grande estímulo para o consumo de bens duráveis. Eu ainda não tenho visto que isso está migrando para o setor turístico. Mesmo assim; quando trabalhamos com hotéis midscale e superior; é possível afirmar que não vai haver impacto nenhum; pois não vai ocorrer migração do B para o A e do C para o B; são perfis diferentes. Mas aos poucos isso vai acontecer desde que haja sustentabilidade em relação a este consumo. Hoje não se compra hotéis em dez vezes; com exceção de algumas operadoras; mas daqui a pouco poderemos ter isso. Para ser atrativo teremos que concorrer com outros segmentos de mercado e no final a conta não fecha; pois o custo fixo de um hotel é alto. Temos que buscar esta rentabilidade para competir.