
Claudia Pessôa
Responsável pela gestão de fomento dos 65 destinos indutores, a Associação Nacional dos Secretários e Dirigentes de Turismo das Capitais (Anseditur) decidiu pela mudança de estatuto, de modo a ampliar o seu leque de atuação junto aos principais municípios com vocação turística. A medida deve ser adotada já na próxima reunião da diretoria, durante o Festuris, em Gramado. De acordo com a presidente da entidade, Claudia Pessôa, é preciso que os futuros governantes valorizem a diversidade cultural e gastronômica, respeitando as características regionais e que o programa de aviação regional seja implantado, gradativamente, como forma de melhorar a acessibilidade às cidades com vocação turística.
MERCADO & EVENTOS – Como você vê a importância do processo de municipalização no turismo como fator de desenvolvimento econômico e social, bem como o fomento do próprio turismo doméstico?
Claudia Pessôa – Não restam dúvidas que o turismo em nosso país começa pelas cidades e municípios. O Ministério do Turismo precisa ter um olhar mais atento para políticas de fomento para destinos com vocação turística. O próprio ministro Vinícius Lages reconheceu que o turismo deve ser visto como vetor de desenvolvimento de fronteiras. A campanha #PartiuBrasil já é um primeiro passo mas é preciso fazer mais. Tanto na questão dos investimentos em infraestrutura como capacitação dos gestores públicos e do setor privado. A própria Anseditur, atenta as carências do mercado, vem propondo uma mudança de estatuto no sentido de incluir além dos 65 destinos indutores, outros municípios que não fazem parte desta relação como forma de ampliar a ação das políticas públicas de modo uniforme para desenvolvimento desta atividade. Ter assim um novo mapa do turismo brasileiro com experiências ampliadas.
M&E – Você acredita que os megaeventos, como a Copa, trouxeram um novo olhar para essa atividade por parte dos governantes, de modo a entender o turismo como fator de inclusão social e de desenvolvimento?
Claudia Pessôa – Creio que sim. Eu diria que é importante aos governantes terem este novo olhar de modo a perceber que por meio do turismo se pode gerar emprego e renda promovendo deste modo a inclusão social e também oportunidades para novos investimentos com retorno garantido. A experiência da Copa foi gratificante neste sentido e mostrou que tendo um calendário de eventos bem estruturado e serviços que atendam ao consumidor isso movimenta a economia. Isso implica no envolvimento de outros setores que passam da economia criativa até o artesanato. Mas tudo isso também envolve um planejamento adequado. A Anseditur tem uma proposta que estamos formatando de modo a obter dados e informações que auxiliem neste planejamento e isso passa pela elaboração de um programa baseado num Observatório do Turismo onde se possa ter a categorização da pesquisa turística brasileira. Com isso poderemos ter uma unidade de indicadores e ter um planejamento adequado.
M&E – Um dos grandes gargalos para o desenvolvimento do turismo doméstico tem sido a questão da acessibilidade. Acredita que com a implantação do programa de regionalização do turismo possamos ter um ganho maior no fomento ao turismo no Brasil?
Claudia Pessôa – Estou certa de que o programa de aviação regional é fundamental. Essa é uma discussão que não é nova e representa um pleito antigo. Num país de grandes distâncias continentais como é o caso do Brasil não se pode restringir a política de aviação comercial apenas a um segmento como acontece atualmente. Os voos regionais vão facilitar as redes de negócios, como também criará facilidades de deslocamentos tanto a lazer como a negócios.
M&E – O Ministério e a Embratur vêm discutindo uma mudança na política promocional do Brasil. Acredita que já é hora de inserir nos programas de divulgação no exterior toda a diversidade cultural e gastronômica, como já vem acontecendo este ano?
Claudia Pessôa – O MTur e a Embratur perceberam que essa diversidade é um patrimônio que deve ser divulgado junto aos nossos principais destinos emissores. É preciso haver uma continuidade nesta promoção diversificada pois se trata de produtos que têm seu apelo. São elementos que servem de pilares na política promocional. Já essa diversidade deve ser trabalhada de modo que se tenha um padrão de qualidade capaz de atender ao mercado internacional. Isso passa por um processo de capacitação onde devem ser incluídos todos os atores, desde o Sebrae ao Senac, passando pelo Cefet e outros órgãos e entidades, no sentido de valorizar o produto regional e dar a ele um padrão de qualidade que possa ser um atrativo aos turistas que nos visitam. É preciso que se crie fatores motivacionais aos profissionais pois o conhecimento é a grande arma da nossa atividade.
M&E – Como os futuros governantes a serem eleitos devem entender o turismo? Qual a importância de se ter uma equipe técnica na elaboração de políticas de fomento para o setor?
Claudia Pessôa – Acredito que as secretarias de turismo e o próprio ministério devem ter sempre uma equipe capacitada na elaboração de políticas de turismo. Infelizmente em muitos governos não têm sido assim e os interesses políticos acabam sendo colocados como prioridade. O turismo tem que ser uma atividade com um programa supra partidário. O próprio ministério tem procurado estabelecer uma interface com o mercado de modo a ouvir suas demandas. Afinal a articulação política é saudável, desde que se tenha também uma política baseada em questões técnicas que atendam as demandas do mercado, e, para isso, a formatação de uma equipe qualificada com técnicos é de vital importância.