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Entrevistas

​O desafio de implantar um modelo profissional numa estrutura familiar

Depois de sua passagem pela Tam, onde ocupou a vice-presidência da companhia, Paulo Castello Branco assume neste dia 6  de agosto a presidência do Grupo Águia, em substituição a Wagner Abrahão, que passa para a presidência do Conselho. Antes de sua posse, o dirigente falou sobre esse novo desafio em sua carreira e da importância de se adotar uma gestão profissional no grupo, que até então era administrado com base numa estrutura familiar. Na opinião dele, o mercado vive um bom momento, mas ressalta que é preciso investir em infraestrutura para megaeventos como a Copa. Ele criticou também recentes episódios como a interrupção dos voos da Pluna no país, que a seu ver trazem grandes prejuízos ao setor e afetam a credibilidade junto ao consumidor.

M&E – Como você viu o convite para comandar o Grupo Águia e que modelo de gestão você pretende implantar para dar continuidade ao processo de expansão das empresas que integram o mesmo?

Paulo Castello Branco – Com a experiência que trago das empresas onde atuei, quero trazer para o grupo todo o meu conhecimento para dar continuidade a esse processo de expansão. Quando saí da Tam, pretendia passar um período sabático, de recolhimento, mas isso não foi possível. Tinha inicialmente como meta o projeto da Brasil Travel, que acabou não se consolidando por outros motivos. Mas lembro que o Grupo Águia guarda uma grande similaridade ao entender que o mercado do turismo é mais amplo que uma única atividade isolada e pode ser focado em diferentes segmentos. Aceitei prontamente o convite porque vi que aqui se tem grandes oportunidades de crescimento e de fazer acontecer. São desafios possíveis de serem realizados. A minha vinda tem como objetivo principal implantar um modelo de gestão num processo de transição gradual da administração familiar para um modelo profissional, com uma nova metodologia, visando aproveitar oportunidades de mercado que permitam investir em novos segmentos.

M&E – Como você vê a importância da atuação do setor privado como propulsor de crescimento dessa indústria e o mercado de vendas online?

Paulo Castello Branco – Gostaria que não apenas o turismo, mas outros setores da economia tivessem a iniciativa privada como carro-chefe. Acho que o Governo tem coisas mais relevantes com que se preocupar. O Governo demonstrou essa percepção recentemente no caso da concessão dos aeroportos. Quanto às vendas online, eu diria que mesmo com a internet e com a chegada de empresas como a Submarino e a Viajanet, por exemplo, ainda há espaço para todos. Elas vão continuar existindo, mas há operações que não se concretizam no online, principalmente as vendas que exigem consultoria e, nestes casos, as agências de viagens são ainda a solução mais viável. Em mercados como a Ásia, as pessoas estão fazendo a primeira consulta online, mas consolidando as suas vendas com o seu agente de viagens.

M&E – Quais as medidas que devem ser tomadas, de imediato, neste processo de crescimento e expansão do grupo? Existe possibilidade de se abrir capital neste momento?

Paulo Castello Branco – Não faz parte dos nossos planos abrir capital neste momento. Não quer dizer que algum dia isso não venha a acontecer. Temos hoje 14 empresas no grupo e os planos são sempre de crescimento e incorporação. Há também a preocupação de consolidar o que já temos em segmentos como, por exemplo, o turismo religioso, onde pretendemos trabalhar o receptivo para a Jornada Mundial da Juventude, em 2013, e futuros eventos como este no exterior. Vamos explorar mais o aspecto cultural. Também no segmento esportivo acabamos de fechar uma parceria com a UFC para os próximos 18 meses. Na aviação comercial executiva já recebemos a autorização da Anac para iniciar operações. O grupo sempre esteve ligado ao futebol, mas hoje está diversificando sua atuação nos esportes, tanto que o futebol não chega a 40% dos negócios. Independente da questão do futebol, existem outros esportes que apresentam grandes oportunidades. Recentemente, na luta do UFC em Las Vegas, havia cinco mil brasileiros, o que mostra a força deste esporte. Lembro que há três anos pouca gente falava em UFC no Brasil.

M&E – Este processo de profissionalização do Grupo Águia implica em cortes de pessoal para redução de custos?

Paulo Castello Branco – Na verdade esse modelo de profissionalização passa por mim, mas isso não quer dizer que  meu objetivo seja a troca de nomes da atual administração. Eu não tenho como foco enxugar a empresa, mas sim implementar uma metodologia. Se houver necessidade de redução de custos em alguns setores eu o farei, mas alicerçado em critérios do setor financeiro. O Grupo Águia atingiu um patamar pelo empreendedorismo, mas necessita, a partir de agora, passar pela introdução de uma metodologia e processos que levem a alcançar resultados expressivos nas áreas onde atua. Nossa empresa de incentivo, a Top Service, é extremamente forte no mercado e líder do segmento onde atua, atendendo às 500 maiores empresas do país, então o que nós vamos buscar implementar no grupo é um processo onde se possa ter cada vez mais um ganho de produtividade e, com isso, avaliar também as boas oportunidades do mercado. A partir daí avançar e continuar crescendo.

M&E – Numa análise de mercado, onde você vê e identifica boas possibilidades de investimento por parte do Grupo?

Paulo Castello Branco – Eu diria a você que no segmento de operadoras de turismo existe ainda espaço e oportunidades efetivas. Hoje temos no grupo uma marca forte que é a Stella Barros, mas evidentemente podemos trabalhar mais esse mercado seja através de parcerias ou mesmo de empresas que você possa trazer do exterior. Esse é um setor que apresenta uma carência de empresas atuantes e isso está muito evidente para mim. Tudo isso, claro, com marca e competência. Existem oportunidades também no segmento do receptivo e de incentivo. Isso vai acontecer na medida em que o Brasil vai se tornando um país de fato mais conhecido no exterior, isso é perceptível. Basta você observar como a nossa imagem mudou nos últimos cinco anos junto ao mercado externo. Hoje já somos conhecidos como um destino turístico onde você tem uma série de eventos. Temos sim que ter a competência necessária para captar isso em prol do grupo Águia.

M&E – Como você analisa casos como o da Pluna e a Fun & Trip? Até que ponto esse tipo de acontecimento prejudica o mercado e a credibilidade junto ao consumidor?

Paulo Castello Branco – Quando esses fatos acontecem você sabe que, de modo algum, isso é salutar para o setor. Além dos prejuízos, existe a questão da credibilidade, uma vez que em ambos os casos o setor é afetado como um todo em sua imagem junto ao público. Quando você vê uma companhia aérea deixando de operar desse modo é lamentável. Mesmo assim, lembro que esse é um país de dimensões continentais onde há um mercado ocupado por mais de 12.500 agências de viagens. Enfim, é um setor que está passando por um processo de transformação e profissionalização recentes. Ainda vamos assistir a casos esporádicos, mas cada vez menos há empresas parando no meio do caminho. O que se vê sim, cada vez mais, são alianças e fusões acontecendo. Lembro que nas décadas passadas as falências eram mais comuns. Cabe as empresas sérias trabalhar mais com profissionalismo e competência para evitar que fatos como estes se repitam.

M&E – Você que atuou na Tam, como vê a infraestrutura dos aeroportos para a Copa e os investimentos realizados?

Paulo Castello Branco – Vejo com preocupação. Tomemos como base o Rio de Janeiro, onde temos o Galeão, o Santos Dumont e o aeroporto de Jacarepaguá. Lembro que a Anac já solicitou que os aeroportos do Santos Dumont e Congonhas operem durante 24 horas durante a Copa para atender ao grande fluxo. Temos que le
var em conta também a questão dos jatos executivos, meios de transporte bastante utilizados nestes eventos como a Copa. Lembro que Guarulhos e o Galeão não têm como atender a esse segmento. Em Jacarepaguá não temos hangar e ainda há o problema da pista. Ou seja, temos pela frente grandes problemas a solucionar na questão do atendimento à demanda nestes megaeventos. Lembro que os grandes aeroportos brasileiros estão atrelados às suas bases aéreas. Então, de alguma maneira, a FAB devera colaborar neste processo e o Governo tem que agir rápido com os investimentos necessários.

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