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Política

Representantes do turismo falam sobre o impeachment

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Michel Temer toma posse como presidente da República em solenidade no Congresso Nacional (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Melhorar o ambiente de negócios e resgatar a credibilidade e atratividade da economia brasileira para investidores internos e estrangeiros. De acordo com a  Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), são esses os desafios do novo governo, agora que teve fim o  processo de impeachment de Dilma Rousseff.

“O novo governo pode abrir perspectiva inédita de reformas necessárias para o ajuste econômico, pois, a princípio, não terá nenhum compromisso político de reeleição. Portanto, estará isento de pressões para tomar medidas, muitas vezes, impopulares. Deve ser prioridade uma agenda de reformas fiscal, da Previdência e política, além de um novo processo de privatizações, ainda mais ousado do que o ocorrido na década de 1990”, informou a entidade por meio de nota.

Nesta semana, o IBGE divulgou que o PIB fechou o segundo trimestre de 2016 com queda de 0,6% em relação ao trimestre anterior na série livre de influências sazonais. Quando comparada a igual período de 2015, a queda foi de 3,8%. Com o resultado, o PIB acumula – nos primeiros seis meses do ano – retração de 4,6%, comparativamente aos seis primeiros meses de 2015. Considerando apenas o setor de serviços, a queda foi de 0,8%. A agropecuária caiu 2% e a indústria teve incremento de 0,3%.

Diante deste cenário, representantes das principais entidades de turismo do país acreditam que o mercado deve recuperar o fôlego e sair do ciclo de retração. Magda Nassar, presidente da Braztoa, acredita que agora começa uma era com mais previsibilidade.“Até agora, estávamos vivendo na incerteza, o que causava muito alvoroço. Já temos um câmbio mais estável, o que é favorável para o setor. Além disso, o turismo tem uma demanda reprimida muito grande. Agora, isso deve ser resolvido. Desde março temos observado uma melhora, os meses de junho, julho e agosto também foram muito bons. Não conquistamos os índices ótimos de 2014, mas conseguimos enxergar uma recuperação. Ou seja, este cenário de mais tranquilidade vai se refletir no crescimento do país. Independentemente de crenças políticas, torço pela recuperação do Brasil”.

Na mesma linha, Carlos Prado, vice-presidente da Abracorp, afirma que o humor do empresariado – tanto das associadas quanto de seus clientes – melhorou. “A Abracorp acredita que, em 2017, vai crescer até 6% sobre 2016”, projeta. Ele pondera que não tão cedo serão retomados os resultados de 2010, 2012, anos que foram excepcionais. Contudo, a entidade acredita que até mesmo o desemprego deve parar de crescer já em 2016. E citou como exemplo a própria Tour House, que está contratando e deve encerrar o ano com mais funcionários do que em 2015. “Estamos otimistas, mas é um otimismo com prudência. Não vamos sair da realidade e fazer investimentos que não terão payback. Nossa mensagem é a de seguir trabalhando. Vamos colocar em prática o que aprendemos com a crise: aumentar a eficiência e produtividade”.

“O final do processo de impeachment  encerra também a crise política, o que é um passo importante para que o foco do Governo se volte agora para a questão econômica. Vivemos 180 dias de incertezas, que acabaram  por paralisar também a iniciativa privada, e esse é o tempo que temos que compensar para ingressar em 2017 com esperanças reais de recuperação. O Turismo é um vetor forte para a retomada do crescimento, e vê-lo inserido na pauta positiva da agenda econômica nos deixa otimistas com relação aos rumos futuros. Temos as melhores expectativas com relação ao Governo do presidente Michel Temer, com o qual mantivemos sempre uma interlocução muito positiva durante o período interino”, diz Edmar Bull, corroborando com o posicionamento dos colegas.

O mesmo raciocínio é mantido por Manuel Gama, presidente do Fohb e da rede Travel Inn. “A conclusão do processo de impeachment é a grande oportunidade do país retomar a estabilidade política e econômica, baixar a inflação, baixar a taxa Selic, reverter a taxa do desemprego e a volta cíclica da economia. É necessário encarar de frente  as reformas estruturais, como tomar medidas enérgicas para garantir o futuro da Previdência e cortar os gastos públicos. Sabemos que não é uma tarefa fácil, mas fundamental para conferir tranquilidade às empresas para investirem no Brasil. Esperamos que a classe política considere o setor de turismo, e nele inclui-se a hotelaria, fundamental para o desenvolvimento econômico do país”.

“Estamos confiantes. Não poderia ser diferente, porque a situação estava muito ruim. Desde o último mês, passamos a ter mais estabilidade e sinais de que a inflação está sendo contida. Também esperamos uma relação melhor com outros países. O Turismo é muito vulnerável, tanto para o lado positivo, como melhora no câmbio, como no negativo. No caso dos cruzeiros, esperamos ter um bom desempenho nesta temporada, que tem uma oferta de 380 mil leitos”, projeta Marco Ferraz, presidente da Clia Abremar, sem destoar do discurso dos outros dirigentes.

MTur
Magda acredita que Temer deve manter o ministério. Ela conta que já esteve em audiência com ele em outras ocasiões e que o novo presidente se mostrou pró-turismo e uma pessoa que entende a importância do setor. Tanto ela quanto Prado destacam que, uma vez seja mantida a pasta, é importante que ela seja assumida por alguém que conheça e entenda o setor.

Outro lado
O segundo impeachment de um presidente da República em 24 anos não é positivo para uma democracia, apontam alguns especialistas. Para Antônio Barbosa, professor do Departamento de História da Universidade de Brasília, dois impeachments em tão pouco tempo são “sinal de que há uma doença grave da democracia”, mas isso não é motivo para deixar de usar, pois é um instrumento legal existente na Constituição e o processo contra Dilma teve legitimidade, de acordo com ele.

Já o historiador Daniel Aarão Reis, professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense, se opõe ao próprio instituto do impeachment. Para ele, foi um erro sua manutenção na época das discussões da Constituição Federal de 1988. “Essa lei do impeachment é uma lei de 1950. Eu penso que as forças progressistas do Brasil, quando da aprovação da Constituição de 1988, cometeram o erro de não ter questionado esse dispositivo”, comenta. Na avaliação do historiador, o impeachment é “extremamente autoritário e antidemocrático” e sua repetição, 24 anos após a queda de Collor, “enfraquece a democracia”.

Já o professor Michael Mohallem, da FGV Direito Rio de Janeiro, acredita que o impeachment foi uma punição desproporcional para as acusações de manobras fiscais enfrentadas por Dilma Rousseff. Para ele, a aprovação da destituição da ex-presidente cria um risco de instabilidade política. “A Lei de Crimes de Responsabilidade [lei 1.079, de 1950] estabelece uma série de crimes graves. No ano 2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal acrescentou algumas possibilidades, que são as que estão sendo usadas nesse momento [contra Dilma]. Mas, em uma democracia, a perda do cargo tem que ser excepcionalíssima, tem que se dar em uma situação extrema. Existe, agora, o risco de que o impeachment se torne um instrumento comum na política brasileira. Acho muito ruim para a democracia”, avalia Mohallem.

*Com informações da Agência Brasil e colaboração de Anderson Masetto

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