
Maioria dos eventos previstos para os meses de abril e maio foram adiados
“Literalmente fomos do tudo ao nada”. É assim que a presidente da Associação Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc), Fátima Facuri, define o impacto da pandemia do novo coronavírus no setor de feiras e eventos. A estimativa da entidade é de um impacto de R$ 80 bilhões na economia, considerando eventos cancelados em abril e maio deste ano. O cenário é ainda mais devastador se consideradas as expectativas para o ano.
Pesquisados, 78% dos organizadores brasileiros pretendiam fazer mais eventos em 2020, incluindo um aumento de 66% em suas equipes para atender a demanda. No quesito boas expectativas, o Brasil era líder mundial, à frente do Reino Unido, com 58%, e da Alemanha, que planejava um movimento de mais 56%. Esses números foram divulgados em fevereiro, há dois meses apenas, pela Eventbrite, plataforma global de venda de ingressos e tecnologia para eventos. A pesquisa contou com mais de 6,8 mil entrevistados, sendo parte deles brasileiros.
De acordo com a Abeoc muitas empresas estão descapitalizadas porque estavam com os eventos prontos e eles simplesmente não aconteceram. Fátima lembra que são comuns os contratos com previsão de pagamento para 60, 90 e até 120 dias. “Cada empresa, cada evento está sendo renegociado individualmente, seguindo os acordos pré-estabelecidos. É um desafio”, lamenta.
Um levantamento preliminar da associação aponta que pelo menos metade dos eventos do primeiro semestre ainda está com novas datas indefinidas devido à sazonalidade ou falta de calendário.

Fatima Facuri, presidente da Abeoc
“É preciso entender que um evento não acontece apenas na data de visitação ao público, há reserva de dias para a montagem e desmontagem. Um evento de três dias ocupa, ao menos, cinco ou seis nas agendas dos centros de convenção”, explica Fátima Facuri. Considerando o tamanho, cada um pode gerar de dez a 400 empregos diretos e até o dobro de indiretos. Em um universo de mais de 1,4 mil eventos previstos até julho (dados da Feiras do Brasil), temos um grande problema social.
O mercado de eventos é formado por, ao menos, 52 segmentos. Uma capilaridade que engloba segurança, marketing, transporte, logística, hospedagem, alimentação, infraestrutura, centros de convenções e que continua numa lista extensa de serviços. São R$ 305 bilhões de reais injetados na economia e 25 milhões de empregos formais. “Toda essa engrenagem está paralisada. Empresas lutam para garantir calendário para o segundo semestre e evitar cancelamentos. E ainda não temos noção de até onde se estenderá essa crise. Para alguns, 2020 já acabou, ou nem mesmo começou”, confessa
Medidas urgentes
A Abeoc apresentou uma lista de pleitos às autoridades, entre elas, os ministros do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, e da Economia, Paulo Guedes. Estas reivindicações incluem medidas emergenciais, como o diferimento tributário (ICMS e ISS); linhas de crédito em bancos oficiais; suspensão de qualquer ação fiscalizadora; e um regime excepcional simplificado de lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho por falta de recursos financeiros) para empresas que apresentem uma queda de 40% na receita.
“Nosso contato com quem decide tem sido assíduo. Muitas decisões estão sendo tomadas, muitas abrangentes e outras bem setorizadas, mas nada que tenha reflexo positivo e concreto no setor”, lamenta Facuri. “Também unimos forças a outras entidades representantes dos diversos segmentos que integram o setor, participando de reuniões e manifestos que resguardem o mercado de eventos, além de intensificarmos as campanhas de conscientização como a ‘Não cancele, remarque. Remarcar é o primeiro passo para recomeçar’. Acreditamos nisso e, portanto, estamos orientando nossos associados a manterem a calma enquanto aguardamos as soluções das autoridades. Unidos somos mais fortes e estamos à disposição para todo suporte necessário ao nosso alcance”, completou.