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Entrevistas

Temos que ser competitivos para ter maior visibilidade no mercado

Salvador Saladino, presidente da Brazilian Incoming Travel Organization (Bito)

Salvador Saladino, presidente da Brazilian Incoming Travel Organization (Bito)


Em meio ao calendário dos megaeventos e ao grande volume de turistas estrangeiros que aqui vieram em função da Copa das Confederações e da Jornada Mundial da Juventude, o presidente da Brazilian Incoming Travel Organization (Bito), Salvador Saladino, deixa de lado o clima de oba-oba que se instaurou nas ruas e até em algumas entidades do setor, para fazer um alerta sobre a necessidade de um amplo debate com os mais diversos segmentos que integram a cadeia produtiva do Turismo no sentido de promover um debate que resulte na discussão do que denomina como Produto Brasil.

Em sua opinião, existem atualmente inúmeras estratégias e ações que ao invés de contribuir e promover o nosso destino, têm prejudicado a imagem do país no exterior, o que, para ele, pode comprometer em muito o legado dos megaeventos. Na última reunião do Conselho Nacional do Turismo, em Brasília, o dirigente expôs sua preocupação e pediu a criação de uma comissão intersetorial para discutir temas importantes que dizem respeito a uma padronização e critérios referentes a questões das tarifas aéreas e hoteleiras, bem como a estratégia de promoção, e formatação de produtos com padrão internacional divulgados com foco e diretriz definidas.

Tudo isso com um único objetivo: tornar o país mais competitivo no cenário internacional. Ele lembra ainda que a Bito representa a maior entidade na relação dos operadores internacionais que vendem o destino Brasil e que o modelo de comercialização e promoção do nosso destino necessita de ajustes.

MERCADO & EVENTOS – Com a realização da Copa das Confederações e da Jornada Mundial da Juventude o Brasil iniciou o calendário dos megaeventos. Como o país pode aproveitar melhor o legado deste calendário que se estende até as Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro?

Salvador Saladino – Antes de qualquer coisa é preciso esclarecer que realizar eventos de grande porte um país como o nosso representa uma grande responsabilidade no sentido de se criar uma infraestrutura adequada para recebê-los e, ao mesmo tempo, adotar um planejamento e uma organização adequados. Temos sim uma grande exposição internacional e maior visibilidade. Mas essa exposição nem sempre é simples e positiva. Tivemos exemplos recentes como a Rio + 20 e a Copa das Confederações, quando os valores cobrados tanto pela hotelaria quanto pelo setor aéreo, bem como a falta de uma melhor infraestrutura,  não atingiram um patamar e um padrão de qualidade compatível  quando se trata de apresentar ao mercado internacional um produto competitivo.

M&E – Qual a proposta da Bito quando se trata de tornar o nosso produto Brasil mais competitivo num cenário cada vez mais globalizado? E o que levou a apresentar a sugestão de um amplo debate?

Salvador Saladino – Estamos preocupados. A Bito tem observado que tanto na Rio + 20 como na Copa das Confederações as taxas de ocupação da hotelaria ficaram bem abaixo do esperado e houve um motivo para isso, os preços das tarifas adotadas. A vinda de turistas também ficou aquém do previsto. Esses resultados mostram claramente a necessidade de um amplo debate entre os articuladores e players do mercado sobre a necessidade de adotarmos preços mais competitivos em relação ao mercado internacional e uma estratégia conjunta. Levamos ao Conselho Nacional do Turismo uma proposta para rever produtos e serviços a nível Brasil. Os nossos produtos têm que ser melhorados atingindo um patamar de padrão internacional a fim de sermos mais competitivos. Veja o caso das tarifas aéreas, que atingiram um patamar inaceitável quando se trata de uma análise de competitividade com o que é praticado no exterior. A nossa preocupação não é rever tarifas propriamente, mas conceitos e estratégias a fim de tornar o Brasil mais atraente para o turista internacional. Já externamos com a Embratur a nossa preocupação no que se refere as ações promocionais. Isso passa por uma análise crítica, prévia, pois antes de se preocupar com a divulgação do destino, temos que pensar se o mesmo é competitivo em relação à concorrência.

M&E – No caso das Olimpíadas, já vimos exemplos de sucesso, como Barcelona, e de fracasso, como Atenas. Que lições o Brasil deve tirar para que um evento dessa magnitude possa trazer resultados positivos, assim como a Copa de 2014?

Salvador Saladino – Essa é uma questão complicada. Veja os gastos realizados com os grandes estádios e que correm o risco de se tornarem verdadeiros elefantes brancos caso não haja uma estratégia adequada para torná-los rentáveis. Não basta utilizar os mesmos como centros para realização de eventos. É preciso ir além, pois existe um custo de manutenção. A minha impressão é que falta um planejamento adequado e isso se reflete em experiências negativas como aconteceu com a Rio + 20 e a própria Copa das Confederações. Temos que aprender com essas lições e o que deu errado. Temos que ter padrão e critérios. O mesmo diz respeito em relação à questão da flexibilização dos vistos. É uma questão que deve ser tratada com cuidado e atenção, pois cada país tem uma realidade sócio-econômica diferenciada. Existe a Lei da Reciprocidade que deve ser observada. Há também a questão da burocracia, que dificulta o acesso, como é o caso do visto para os Estados Unidos. Hoje o Brasil é visto também como um grande mercado consumidor e que tem despertado cada vez mais o interesse dos estrangeiros.

M&E – Hoje é cada vez maior o número de feiras e eventos. Como adequar nossa política de promoção para que tenhamos um resultado expressivo?

Salvador Saladino – Você tocou num ponto que é preocupante. É cada vez maior o número de eventos. Hoje em dia você tem fazer um planejamento observando a realidade do mercado. Falta um ordenamento, uma redução. Hoje quem ganha dinheiro é o montador. Temos que fazer um calendário racional, que possa ter uma redução no número de eventos. Todas essas questões passam pela ideia da formação de uma comissão intersetorial em que possamos pensar de forma globalizada, pois estamos falando de Brasil. É preciso definir responsabilidades. Temos uma relação entre compradores e vendedores. Se quisermos colocar nosso produto na prateleira, não basta distribuir folhetos. Por vezes muitas destas ações acabam nos colocando como verdadeiros pregadores no deserto e é preciso pensar numa nova estratégia de promoção do produto Brasil se quisermos aproveitar o legado dos grandes eventos.

M&E – Neste sentido, dentro da proposta apresentada no Conselho, que questões considera pertinentes?

Salvador Saladino – A proposta da Bito é a criação de uma comissão intersetorial para tratar exaustivamente sobre os recursos necessários à compatibilização dos valores tarifários, até o presente, sem resolução. A prestação de serviços no país está em situação precária frente ao exterior, apesar do discurso interno de desenvolver o Turismo, não existe compatibilidade de valores com produtos similares internacionais. Consideramos essa situação absolutamente grave e ressaltamos que deve ser resolvida. Formalizamos a proposta da comissão congregando hoteleiros, operadores e a Embratur, que faz um trabalho excelente de promoção do país, mas que encontra as mesmas problemáticas das operadoras, vendendo um produto que não está adequado ao mercado internacional quando se trata de competitividade.

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