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Entrevistas

​OMT em defesa de um “Turismo sem Fronteiras”

Márcio Favilla, diretor-executivo da Organização Mundial do Turismo (OMT)

Márcio Favilla, diretor-executivo da Organização Mundial do Turismo (OMT)


O diretor-executivo da Organização Mundial do Turismo (OMT), Márcio Favilla, participou no mês passado de um fórum internacional realizado durante o Festival das Cataratas, onde abordou os desafios e aspectos do Turismo de Fronteira. O tema já vem sendo debatido desde a época do ex-ministro Walfrido dos Mares Guia, mas desde então, pouco avançou. Nesta entrevista exclusiva para o M&E, Favilla apresenta propostas para a adoção de medidas que possam viabilizar um Turismo sem fronteiras, num futuro próximo. Para isso, lembra que o Turismo na América do Sul tem crescido acima da média mundial e que boa parte das viagens é realizada entre os países que fazem fronteiras com o Brasil. Ele critica a mentalidade de boa parte dos dirigentes e governantes que não conhecem de perto essa realidade, mas manifesta seu otimismo em relação à discussão do tema, que a seu ver deve avançar com a desburocratização, bem como a questão da conectividade, facilitando deste modo o fluxo entre turistas de países da América do Sul. Destaca também questões que serão discutidas durante assembléia geral da OMT, que acontece em agosto, na África.

Mercado & Eventos – Como o senhor vê a posição do Brasil na questão do Turismo de Fronteiras e de que modo esse tema pode avançar?

Márcio Favilla – Na verdade o que nós todos queremos é um Turismo sem fronteiras. Um Turismo sem fronteiras legais, para que as pessoas possam viajar sem quaisquer dificuldades. Sem a burocracia, que dificulta esse acesso, sem os preconceitos e disputas regionais. Enfim, todos queremos um Turismo que possa ser beneficiado pela diversidade cultural dos países atraindo cada vez mais visitantes. A questão é que esse tema ainda não está muito claro para os governos, porque em geral as medidas são tomadas por autoridades que não têm um conhecimento maior da realidade de cada fronteira. E isso sem dúvida dificulta em muito esse processo. Falta ainda uma maior sensibilidade por parte dos governantes que não conhecem a realidade e os pormenores. O que tem muito são conceitos pré-concebidos. Muitas autoridades acreditam que o Turismo de fronteira tem como objetivo principal proporcionar o Turismo de compras e se preocupam em coibir o contrabando. O Turismo de Fronteira como deve ser visto é muito mais do que isso. Lembro que as pessoas viajam para passear, conhecer a cultura local, os atrativos naturais, conhecer a gastronomia regional, além de compras é claro. O que eu gostaria de destacar é que já existem regras estabelecendo limites de compras para que os turistas se adéquem. Em Foz do Iguaçu o Turismo de Fronteira começa a ganhar um novo conceito porque as pessoas estão percebendo as vantagens de se criar facilidades de acesso tanto para os lado brasileiro quanto argentino e paraguaio. E, além das compras, a região se tornou um destino importante para realização de eventos. Esse modelo poderia ser estendido a outros locais de fronteira do Brasil criando uma cultura de integração e convivência. O Turismo possibilita isso.

M&E – De um modo geral, como avalia a situação atual na América do Sul?

Márcio Favilla – Creio que de um modo em geral o Turismo regional tem sido um dos fatores para manter o crescimento das viagens internacionais. Muitos países têm adotado medidas de eliminação ou flexibilização dos vistos. Aqui na América do Sul esse fato já é muito bem explorado. Lembro que na primeira vez em que fui à Argentina, há 37 anos, viajei usando apenas a carteira de identidade. Isso não acontecia na Europa, mas isso mudou. As autoridades têm adotado cada vez mais medidas facilitadoras. Na América do Sul o problema são os trâmites fronteiriços. Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai deveriam buscar modernizar também suas legislações e eliminar medidas que atualmente não têm mais nenhum cabimento. Lembro que segundo dados da própria OMT, a previsão é que nos próximos 20 anos tenhamos uma média de incremento de 43 milhões de turistas internacionais por ano no mundo. Desse total, 1,7 milhão será apenas na América do Sul e uma parte deles será entre países sul-americanos. Esse é um dado que as autoridades dos países do Cone Sul devem levar em consideração. Temos que criar todas as condições possíveis para que os sul-americanos viajem dentro da região e isso se consegue facilitando a conectividade aérea e terrestre. Hoje já houve avanços em relação ao setor aéreo, mas ainda há dificuldades, principalmente no que se refere à aviação regional. Isso tem que ser revisto. Neste contexto temos que observar os benefícios dos roteiros integrados principalmente para os turistas estrangeiros que vêm de longe e gostariam de conhecer melhor a região como um todo. Os governos podem ter grandes ganhos com esse Turismo integrado. Lembro que os brasileiros quando viajam à Europa ou Ásia querem aproveitar seus deslocamentos para visitarem mais de um país. O mesmo acontece para europeus, asiáticos e norte-americanos, que gostariam de visitar não apenas o Brasil, mas também a Argentina e outros países. Precisamos então criar condições de acesso que estimulem essa prática, pois todos ganham com isso.

M&E – A OMT terá em agosto um Congresso Mundial. Quais os temas principais a serem discutidos nesta próxima reunião?

Márcio Favilla – Sim teremos um encontro que vai acontecer nas Cataratas de Vitória, na divisa de Zambia e Zimbabwe. Lá estaremos discutindo alguns temas pertinentes. É a Assembleia Geral que acontece a cada dois anos. Termos dois temas de interesse geral. O primeiro deles diz respeito à questão da conectividade aérea internacional. A outra questão é a da facilitação de viagens. Queremos conhecer experiências bem sucedidas que alcancem esse objetivo. Esses temas dizem respeito a duas questões que consideramos relevantes. Além disso, temos ainda outros dois temas preocupantes como é a questão das taxas e impostos que o setor enfrenta, já que o Turismo se beneficia de bens públicos. A OMT quer que esse cenário seja trabalhado de forma inteligente. A OMT também tem voltado suas atenções para outro tema que diz respeito à medidas de auxílio a turistas que passam por contratempos provenientes de desastres climáticos. Temos observado que muitas vezes esses turistas que visitam um país afetado por tempestades, furacões, maremotos, terremotos não têm nenhum tipo de salvaguarda e proteção. Recentemente tivemos a questão da nuvem de cinzas de vulcões que paralisou o tráfego aéreo na Europa e na América do Sul. Não há um instrumento legal para regular e ajudar a resolver essas situações. Isso acontece muitas vezes com brasileiros que viajam ao exterior e que não têm qualquer tipo de cobertura ou assistência. Faltam instrumentos para atendimento aos turistas.

M&E – Como vê o cenário com essas crises econômicas? Existe uma preocupação por parte da OMT em relação ao setor?

Márcio Favilla – Claro que não é uma situação tranquila e existem preocupações em relação à estabilidade econômica e política dos países. Mas lembro que mesmo com a crise econômica mundial o Turismo tem mantido suas taxas de crescimento mostrando a força deste setor. A Espanha, onde fica a sede da OMT, é um exemplo claro e lembro que o único setor que ainda continua gerando empregos é o Turismo. Neste ano, o Turismo internacional deve crescer entre 3% a 4%. A América do Sul tem a longo prazo um crescimento de 6,8% ao ano nas próximas duas décadas. É uma das regiões que deve ter um crescimento mais rápido e para isso todas as medidas que vierem a facilitar o
Turismo de fronteira devem ser bem vindas, pois isso certamente trará benefícios para toda a indústria do setor assim como para a própria economia destes países. Volto a repetir, podemos observar que as viagens de curta distância estão sendo cada vez mais procuradas e o Turismo regional é quem acaba sendo beneficiado. As próprias empresas aéreas têm criado cada vez mais rotas regionais em função também da demanda e da economia de combustível, adequando desse modo suas rotas operacionais no processo de redução de custos. Quem acaba sendo beneficiado com tudo isso é o turista. A América do Sul apresenta excelentes perspectivas de crescimento. O Brasil com os megaeventos também deve ser beneficiado neste processo e para isso precisa aproveitar o legado que terá com a maior visibilidade no cenário internacional.

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