
Arnaldo Nardone, presidente da International Congress and Convention Association (ICCA)
Uma verdadeira aula sobre o Turismo de Eventos e o segmento MICE. Assim pode ser resumido o bate-papo que o M&E teve com o presidente da International Congress and Convention Association (ICCA), Arnaldo Nardone, que esteve no Brasil para participar da WTM-LA. Neste ano, a ICCA comemora 50 anos e numa conversa bastante agradável, marcada pela simpatia do executivo, Nardone revelou sua visão sobre o segmento na América do Sul e, claro, no Brasil. O país ocupa a sétima posição no ranking da associação.
“O Brasil é extremamente exitoso na captação e promoção de seus destinos, mas falta conscientização de toda a estrutura das cidades. Não se pode apenas se preocupar em captar o evento de depois esquecer os outros detalhes. Quando um evento acontece num determinado destino, esse evento tem que ser um fenômeno porque um evento bem feito traz outros eventos. Se o evento for ruim, o público volta para casa falando mal o destino como um todo”, alerta Nardone.
Apesar do Brasil aparecer como primeiro país da América Latina no ranking, as cidades de Rio de Janeiro e São Paulo ainda ficam atrás de Buenos Aires e, de acordo com Nardone, isso tem uma justificativa. “Isso acontece por conta da marca (brand) das cidades. Os executivos preferem Buenos Aires por ser uma cidade onde é fácil se mover e que possui áreas bem definidas”. Entenda toda a explicação dada pelo presidente da ICCA na entrevista abaixo.
M&E – Como o senhor vê a situação do Brasil hoje no que tange à realização de eventos com padrão ICCA?
Arnaldo Nardone – É uma posição muito boa, ocupando a sétima colocação no último ranking divulgado. Isso demonstra a profissionalização deste setor no país. Existem mais oportunidades e vejo que os Centros de Convenções são os responsáveis por esse trabalho de divulgação juntamente com os Conventions Bureaux, que buscam novos eventos. No entanto, é preciso que os outros setores da comunidade participem de forma mais ativa nesse sentido. É necessário que seja formada uma grande equipe composta tanto pelo setor público quanto pelo setor privado. Defendo a interlocução de serviços entre todas as partes envolvidas.
M&E – Quais os fatores podem afetar a imagem de um país e impedir que ele receba mais eventos?
Arnaldo Nardone – A falta de estrutura nas cidades que sediam os eventos afeta a organização dos mesmos de uma forma geral. Por isso é preciso uma planificação conjunta. No aeroporto, tanto a segurança quanto o controle de passaporte, devem funcionar. Posso citar como exemplo uma situação que vivi ao chegar em São Paulo para a WTM-LA. No aeroporto de Guarulhos um cidadão do próprio aeroporto, da área de segurança, começou a gritar comigo sem motivo algum. Eu o questionei e tentava entender o motivo de estar sendo tratado daquela maneira. Imagina a imagem que um turista, de negócios ou mesmo a lazer, vai levar de qualquer destino se passar por uma situação como esta. Portanto, ressalto, o Brasil é extremamente exitoso na captação e promoção de seus destinos, mas falta conscientização de toda a estrutura das cidades. Não se pode apenas se preocupar em captar o evento de depois esquecer os outros detalhes. Quando um evento acontece num determinado destino, esse evento tem que ser um fenômeno, porque um evento bem feito traz outros eventos. Se o evento for ruim, o público volta para casa falando mal o destino como um todo.
M&E – A América Latina, como região, vem evoluindo neste sentido?
Arnaldo Nardone – Tenho visto um grande desenvolvimento nos últimos três anos com mais promoção, profissionalização e infraestrutura. Nos últimos 7 a 8 anos o número de construções de centro de convenções também aumentou. Os hotéis, por sua vez, melhoraram sua estrutura. Em alguns casos, os países são profissionais, mas não tem mercado, como acontece com o Chile, que possui um limite de mercado e isso não permite que ele cresça nesse segmento de Turismo de Eventos. O Peru vem crescendo, mas ainda é muito novo nesse setor, possuindo apenas dois conventions bureaux. Lima não tem infrasetrutura suficiente, com apenas dois grandes hotéis. Já o caso de Buenos Aires é mais impressionante, já que a cidade hoje é a número um na América Latina na captação de eventos e não tem centros de convenções, apenas o espaço La Rural, que é convertido para receber eventos. O destino utiliza os hotéis para sediar as reuniões, encontros e feiras.
M&E – O senhor citou o caso de sucesso de Buenos Aires, que está na frente de Rio e São Paulo no ranking ICCA. Como isso é possível? O Brasil supera a Argentina de forma geral, mas BUE continua na liderança da América Latina?
Arnaldo Nardone – Isso acontece por conta da marca (brand) das cidades. Os executivos preferem Buenos Aires por ser uma cidade onde é fácil se mover e que possui áreas bem definidas. A imagem que fazem de São Paulo é de uma cidade muito grande, onde é mais fácil se perder e que “assusta” esses visitantes. Além disso, São Paulo tem como marca apenas os negócios, já Buenos Aires alia negócios com atrativos de lazer e vida noturna na medida certa. Ressalto que essa questão da marca é de extrema importância. Posso dar como exemplo a cidade de Copenhagen, que havia apostado apenas na marca do Ecoturismo, mas teve que rever isso e se reposicionar. Já o Rio de Janeiro tem muito potencial, porém uma marca forte de lazer. E as estruturas de seus hotéis também precisam de uma renovação, o que já está acontecendo. Se melhorar a infraestrutura e segurança, voltará a aparecer como cidade integrada e voltará a mostrar sua aptidão para os negócios e eventos. Muitas pessoas de fora olham para a capital fluminense e só vêem praia.
M&E – O que o senhor acha da realização da primeira WTM-LA no Brasil?
Arnaldo Nardone – Primeiro, acho que uma feira tem que ter um foco claro, ou ser de lazer ou ser de negócios. É preciso definir um dos dois segmentos. É muito perigoso o fato de tentar alcançar todas as vertentes. A FIT, de Buenos Aires, tentou isso durante um tempo e não deu certo, teve então que voltar suas atenções ao lazer. O Brasil também já teve alguns exemplos do que eu estou falando. Quando os expositores souberam da WTM Latin America, logo associaram seu nome conteúdo com a WTM Londres, que possui como foco o lazer. Creio que muitos dos que vieram ao Brasil para o evento buscavam o lazer. Na minha visão apostar em dois lados não funciona, ou você realiza um evento de lazer ou um evento de negócios.