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Entrevistas

​Falta de eficiência e má produtividade são obstáculos do Turismo

Com pouco mais de dois meses à frente da Secretaria Nacional de Políticas de Turismo, Vinícius Lummertz já tem uma noção do grande desafio de sua pasta, responsável pelo modelo de gestão capaz de dar um novo impulso ao Turismo brasileiro. Às vésperas do lançamento oficial do PNT em Ação, o dirigente reconhece que um dos grandes desafios do setor está em mensurar os inúmeros benefícios para a economia, e que a seu ver, não têm sido capazes de transpor a grande distância entre o potencial turístico do país e os resultados obtidos. Ele cita como exemplo a incapacidade de explorar com competência o potencial dos parques nacionais e o turismo náutico. Veja a entrevista, a seguir:

MERCADO & EVENTOS – Qual a razão de poucos hotéis terem aderido ao novo sistema de classificação hoteleira? E que benefícios esse novo modelo de matriz traz para os estabelecimentos?
Vinícius Lummertz –
Reconheço que o processo não está andando na velocidade esperada. O fato de nos preocuparmos com a qualidade e de esta ser uma iniciativa voluntária do Governo, o modelo ainda não teve a adesão que se previa. Vamos, inclusive, formalizar junto ao Conselho Nacional de Turismo, um pedido para que haja maior mobilização do trade. A questão é perceber que esse modelo trará benefícios ao hóspede e ao empresário. Esse reconhecimento é importante pelo peso da medida que é vital para ambos. Isso passa por um processo de autoconfiança e conscientização, uma vez que essa matriz dará ao setor maior transferência e qualidade de gestão. A classificação hoteleira é importante e esperamos que o mercado reconheça a importância de aderir a esse programa.

M&E – Dentro do modelo de gestão das políticas de Turismo, o que precisa ser revisto para que o setor alcance resultados mais eficientes e leve o Turismo a ter maior reconhecimento de outros setores do Governo e da sociedade?
Vinícius Lummertz –
O reconhecimento dessa atividade é fundamental ainda mais diante de uma conjuntura econômica afetada pela crise mundial. Temos uma oportunidade única de manter a economia em níveis razoáveis trabalhando para aumentar a nossa baixa produtividade. Creio que podemos render mais para o país. Isso é inegável. Para isso, temos que mudar a legislação e dar andamento aos programas de desoneração fiscal. Lembro que boa parte dos R$ 8 bilhões envolvidos em obras de infraestrutura do setor estão em compasso de espera em função de questões ambientais, de jurisprudência e até no que diz respeito à legislação vigente. O Turismo interno pode avançar consideravelmente. A verdade é que estamos muito distantes do nosso grande potencial. Veja o caso dos nossos parques naturais e o nosso litoral como é pouco explorado. Isso acontece porque falta ainda uma consciência de que a atividade turística traz inúmeros benefícios. O modelo bem sucedido do Parque do Iguaçu mostra que o Turismo doméstico pode ser ampliado. Reconheço que muitas ações envolvem outros setores da economia. O gasto público imediato prioriza por vezes outros setores em função de uma maior compreensão da força econômica do Turismo. Quando você tem dúvidas entre investir numa estrada para um parque ou para um bairro, o político vai sempre optar pela segunda, pois não é capaz de perceber quanto o Turismo pode trazer de retorno em divisas para os cofres públicos. O brasileiro não gosta de fazer contas e prefere ver as coisas pelo lado político e não econômico.

M&E – Neste contexto, há um reconhecimento da importância da participação do Conselho Nacional de Turismo, mas o modelo atual com representantes de quase 70 entidades tem sido criticado. Qual sua opinião?
Vinícius Lummertz –
É preciso que o setor seja mais eficiente fazendo reformas. Nosso objetivo não é apenas atender às necessidades do mercado, mas fazer com que o setor demonstre como um benefício dado a ele irá retornar para a sociedade e se traduzir em resultados. Há que se reconhecer que avançamos. Acho que estamos prontos para entender a importância do Turismo no Brasil sob a ótica econômica. A eficiência do Turismo está em transpor o óbvio para quebrar o torpor existente e transformar em ações concretas esse novo modelo de gestão que estamos trazendo para a pasta. Queremos focar nossas ações nas políticas de Turismo por meio de um conjunto de medidas de comprovada eficiência logística. É importante fazer com que a atividade turística aconteça, sabendo que isso ultrapassa os limites de ação do Ministério do Turismo e envolve outros setores do Governo e da sociedade. Quanto ao modelo de gestão do Conselho, lembro que o Turismo é o setor que tem o maior conjunto de empresas representativas. Mas existe nesse modelo uma musculatura maior que o resultado possível de ser alcançado. O que falta, na verdade, é sair de um segmento que apenas pede ao Governo, para se tornar um segmento que negocia. Não basta, por exemplo, que os parques temáticos peçam ao Governo medidas de desoneração do setor, mas que negociem sim uma contrapartida de investimentos que traga resultados para a economia.

M&E – Como fazer com que o PIB do Turismo no Brasil cresça a níveis de primeiro mundo?
Vinícius Lummertz –
Hoje temos um PIB que representa 3,7% da economia. Isso pode triplicar, pois temos estados como Santa Catatina onde esse índice já superou essa marca e chegou a 13,8%. Há um espaço muito grande para crescer. Hoje o PIB representa R$ 80 bilhões, mas pode chegar a R$ 240 bilhões. A produtividade é a palavra mais importante para o nosso país para que tenhamos uma economia rentável.  Temos que fazer o trabalho de casa e sermos eficientes naquilo que nos propomos a realizar. Para isso é fundamental aumentar a produtividade do trabalhador brasileiro e criar condições para que o empresário se sinta motivado a investir. Atualmente há um verdadeiro represamento das iniciativas do setor privado na indústria do Turismo em função de legislação e dos modelos de jurisprudência. É preciso ampliar as reformas necessárias.

M&E – Dentro dos projetos que têm merecido especial atenção está o aproveitamento dos parques naturais pelo Turismo. Já existe um modelo piloto para isso? E no que se refere ao Turismo náutico?
Vinícius Lummertz –
Estamos criando um Grupo de Trabalho com o objetivo de medir o impacto do Turismo nestas áreas verdes. O que não pode acontecer é deixar inexplorados esses parques. O Brasil tem 10% de áreas naturais onde ficam os parques e mesmo assim perdemos em volume de turistas para países como Nova Zelândia e Costa Rica na exploração deste filão. Foz do Iguaçu é o terceiro destino no país e ganha de várias capitais nordestinas em termos de visitação. Os parques têm um viés educacional, turístico e ambiental pouco explorado. Precisamos mudar isso. Do mesmo modo, temos a questão do Turismo náutico. Florianópolis tem um dos maiores pólos de fabricação de barcos, mas o estado não tem marinas, o que é um contrassenso. O litoral brasileiro está ainda praticamente inexplorado e não se pensa em quanto isso poderia gerar em negócios.

M&E – Durante o ano se aguardou pelas novas metas do Plano Nacional de Turismo. Quando elas serão anunciadas e o que terão como prioridade?
Vinícius Lummertz –
O programa está na Casa Civil e deve ser assinado pela presidenta Dilma Rousseff até a virada deste ano. A ideia é contemplar um primeiro bloco de ações de modo a estruturar medidas que possam, efetivamente, se traduzir em resultados econômicos com maior eficiência. O que é mais rentável para ser viável e para isso o PNT traz um plano estratégico chamado PNT em Ação, de modo a demonstrar em cada setor como isso irá acontecer. O plano estratégico é que vai dar esse direcionamento em cada segmento, de modo a comprovar resultados e conquistas. Já avançamos muito no setor e somos uma potência em termos do Turismo in
terno. A prova mais palpável hoje é o Rio de Janeiro que é sem dúvida a grande alavanca do Turismo internacional e que tem uma nova imagem no exterior e será importante para que o Brasil alcance um posicionamento melhor no Turismo mundial.

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