As cinco principais companhias aéreas nacionais – Tam, Gol, Azul, Avianca e Trip – terão uma só voz para defender seus interesses e buscar mais desenvolvimento para o setor. Essa voz será a de Eduardo Sanovicz, escolhido para ser o presidente da recém-lançada Associação das Empresas Aéreas Brasileiras, a Abear.
Com 30 anos de experiência na área de turismo, Sanovicz tem em seu currículo passagens pela Reed Exhibitions Alcantara Machado, International Congress & Convention Association, Embratur (sendo responsável pela implantação do Plano Aquarela e pela criação da Marca Brasil), Anhembi Turismo e Eventos, São Paulo Convention & Visitors Bureau e Prefeitura Municipal de Santos. Para enfrentar esse novo desafio, Sanovicz fez uma imersão no mundo da aviação.
A entidade foi apresentada oficialmente durante o Aviation Day, em Brasília, na segunda quinzena de agosto. Na ocasião, foram revelados aos jornalistas presentes – incluindo a reportagem do M&E – todos os detalhes que envolvem essa união. “Vamos nos preocupar com todo o processo que envolve uma viagem, mesmo com aqueles que não dizem diretamente respeito às companhias aéreas. Nosso grande compromisso é com quem viaja de avião. Queremos que a experiência de viajar seja boa, considerando todas as etapas da viagem”, explicou Sanovicz.
Apesar de estarem alinhadas, as companhias integrantes da Abear não vão se envolver nas operações umas das outras. Isso significa que elas estarão juntas para debater entraves, mas não para interferir no modo como cada uma delas age. Entre os pleitos, a revisão no preço dos combustíveis e a inclusão no Plano Brasil Maior. “As empresas aéreas são super competitivas e por conta dessa dinâmica, os ganhos de produtividade e tecnológicos, por exemplo, são transferidos para o consumidor num volume altíssimo em comparação aos outros modais. Alguns estudos apontam quase 80% de aumento no valor da passagem”, contou.
No último ano, as companhias venderam 86 milhões de bilhetes. E, de acordo com Sanovicz, é possível ir além. “Queremos vender 150 milhões. E como fazer para alcançar essa meta? Isso precisa valer à pena, ou seja, o negócio precisa dar resultado, precisa haver uma margem de remuneração para acionistas e proprietários. A aviação é um setor no qual os resultados são de margens pequenas, os valores unitários são muito pequenos, o que é grande é a escala”, avalia.
Veja abaixo as declarações de Eduardo Sanovicz dadas no lançamento da entidade e mais detalhes da Abear e do Aviation Day na página 28 desta edição.
Mercado & Eventos – Como você recebeu o convite para comandar a Abear?
Eduardo Sanovicz – Nos últimos dois meses fiz uma imersão no setor da aviação para entender a raiz dos dados, causas e consequências. Aceitei o convite porque, de diferentes formas, há 30 anos eu me dedico ao turismo. Sei que essa é uma área importante para se construir um país economicamente e socialmente mais interessante, integrado e justo. A aviação é um setor que vive rigorosamente dentro das regras de mercado, num mundo de competição e te permite construir um programa de trabalho e enfrentar questões estruturais seríssimas. Se eu conseguir traçar um programa e superar esses problemas, essa será a maior vitória profissional da minha vida até o momento.
M&E – Como a Abear vai lutar para modernizar o setor aéreo brasileiro? Quais serão as armas? E quais os desafios?
Eduardo Sanoviz – Com o diálogo. Esse será nosso principal instrumento para conseguir avanços. Quanto aos desafios, são muitos. Há alguns anos, por exemplo, temos um problema de imagem. O compromisso da Abear é com a experiência de viagem do consumidor. Essa tem que ser uma boa experiência. Voar é apenas uma parte dessa experiência e no que nos diz respeito temos que garantir que essa experiência de voo seja adequada. Contudo, viajar inclui uma série de outros componentes para os quais nós temos propostas. Nós não gostamos de ficar passeado com o avião de um portão de embarque para o outro, isso custa dinheiro, mas o avião sai de uma porta para a outra por questões de infraestrutura de tráfego aéreo. Isso não é responsabilidade nossa, mas temos propostas. Sabemos que estamos envolvidos nessa cadeia e queremos melhorá-la. Outro exemplo: não respondemos pelo preço do pão de queijo no aeroporto, mas muitas vezes faz parte da experiência da viagem. Esta associação nasce porque as empresas aéreas entendem em que na medida em que os passageiros acabam nos focalizando – eles estão no aeroporto porque compraram a passagem – temos que atuar para que cada uma dessas partes melhore. Ou seja, para o conjunto da experiência funcionar direito, todos os agentes envolvidos devem trabalhar bem. É fácil? Claro que não, até porque se fosse fácil já estava resolvido.
M&E – Como funcionará a votação dentro da Associação?
Eduardo Sanovicz – A associação tem uma situação bastante interessante e esse foi o primeiro debate que nós tivemos com os presidentes das companhias há dois meses. Na ocasião, discutimos exatamente como isso seria feito. No sindicato, o voto de cada empresa está ligado ao share de mercado, resolução da Anac. Na Abear temos dois acordos transferidos para o estatuto. O voto é unitário e as decisões são por consenso, ou seja, temos cinco votos – em breve teremos quatro, quando a Azul e Trip se tornam uma empresa só – e as decisões serão tomadas por consenso. Caso apareça alguma pauta que não seja consensual, ela não será considerada pauta da associação.
M&E – Quais são as principais agendas da Abear?
Eduardo Sanovicz – As três grandes agendas são: Agenda Brasília, Agenda de Segurança e Operações de voo, e Agenda de Comunicação. Cada uma delas tem sete ou oito sub-agendas.
M&E – Como é possível derrubar os entraves que prejudicam o setor?
Eduardo Sanovicz – Não há em nenhuma de nossas demandas ou pautas a busca por incentivos e subsídios. Entendemos que temos capacidade enquanto setor econômico de competir nas regras de mercado, de disputar, de concorrer interna e externamente. O que nós queremos colocar em pauta – e isto é urgente – é quais são as condições de competitividade. Por exemplo, o estudo que recebemos recentemente da Iata mostrou que se a companhia aérea mais eficiente em gestão de custos da Europa voasse no Brasil ela custaria 26% mais por conta da estruturação e pela forma de precificar os custos de infraestrutura que nós temos. O que queremos é abrir um debate com os responsáveis por estas variáveis. Entendemos que essa é uma agenda para construir, sabemos que o ICMS não vai cair amanhã, ou as normas e regras que impactam os custos serão eliminadas, mas, a partir de agora, o setor tem um instrumento que lhe permite, de forma ordenada e organizada, enfrentar esse debate.
M&E – A Abear está aberta para novos associados? Como isso funcionará?
Eduardo Sanovicz – O tema sobre novos associados será discutido na próxima reunião do Conselho Deliberativo da Abear.