O prejuízo em 2011 somou mais de US$ 400 milhões com o cancelamento de voos e pacotes em plena temporada de férias. Mas, decorrido um ano, Bariloche começa a dar sinais de recuperação. Apenas para esta temporada de inverno são esperados cerca de 150 mil turistas brasileiros. A estratégia para dar início a este processo começou pela união conjunta de esforços desenvolvido pelo Ministério do Turismo da Província de Rio Negro, a que Bariloche está inserida, e que junto com o Ministério do Turismo da Argentina, a Aerolíneas Argentinas, a Emprotur, órgão oficial de turismo e empresários locais, se montou um verdadeiro mutirão que contou até com a colaboração dos moradores para a retirada das cinzas do vulcão chileno Puyehue. O ministro do Turismo de Rio Negro, Angel Bosch se mostra entusiasmado com os resultados e junto com outras entidades decidiu investir US$ 3 milhões em campanhas de marketing e promoção voltada para capacitação dos agentes de viagens e promoções para o público final. Confira nesta entrevista a estratégia para recuperação deste destino que atualmente recebe 180 voos semanais e terá nas férias de inverno voos diretos do Rio de Janeiro e São Paulo com grupos montados pelas principais operadoras do Brasil. Nesta entrevista ele reforça a ideia de que Bariloche é um destino para todo o ano.
MERCADO & EVENTOS – A Província de Rio Negro tem reforçado a ideia de que Bariloche é destino para todo o ano. O que de fato os brasileiros podem encontrar neste destino como atrativo?
Angel Bosch – De fato isso acontece. Não se pode limitar a ideia de que Bariloche é apenas um destino de neve. Lembro que na década de 50, quando o turismo começou a ser explorado, os hotéis da região só abriam de dezembro a março, fechando o resto do ano. Então podemos afirmar que Bariloche nasceu do verão e o inverno só foi explorado depois do Cerro Catedral. Nossa ideia é mostrar que a cidade tem infraestrutura para diversas áreas como turismo de incentivo e outros segmentos. Temos uma natureza exuberante, um parque nacional que foi o primeiro da América do Sul e atualmente eu diria que estamos ampliando nossa oferta turística. Um dos segmentos que mais têm crescido é o de intercâmbio estudantil. Inúmeros brasileiros estão indo a Bariloche para se divertir e aperfeiçoar o idioma. Além disso, temos turismo de aventura, ecoturismo e muito mais a oferecer sem esquecer o comércio local com seu chocolate considerado um dos melhores do mundo.
M&E – Bariloche enfrentou sérios problemas no ano passado em função das cinzas do vulcão chileno Puyehue. Quais as expectativas para esta próxima temporada de inverno? O que mudou?
Angel Bosch – Temos uma ótima expectativa. Estamos trabalhando um plano de recuperação junto com empresários e a prefeitura de Bariloche, em conjunto com a Emprotur, companhias aéreas e o Ministério do Turismo Argentino e estamos bastante otimistas. Lembro que o brasileiro tem uma história muito bonita com Bariloche, numa relação de carinho de mais de 50 anos. Obviamente que no ano passado tivemos problemas, mas o trabalho de recuperação foi extraordinário. O aeroporto está funcionando normalmente desde janeiro e hoje estamos operando com 180 voos semanais. Além disso, há uma diferença de câmbio que estimula os brasileiros a viajarem a Argentina e este é um diferencial importante que contribui muito para favorecer a vinda de brasileiros. (Em abril o câmbio oficial estava R$ 1,00 = ARG 1,99, mas no comércio, em geral, o câmbio variava de ARG$ 2,35 a ARG$ 2,45). E posso afirmar que Bariloche sempre esteve e continuará no coração dos brasileiros.
M&E – Como mudar a imagem de uma cidade sob ameaça de um vulcão que está distante apenas 80 quilômetros? Ainda existe por parte dos agentes de viagens receio de indicar Bariloche como destino?
Angel Bosch – Sem sombra de dúvidas que nosso trabalho é mostrar e repassar tranquilidade e segurança aos brasileiros. Hoje o aeroporto de Bariloche tem equipamentos que permitem operações que antes não eram viáveis já que não tinha como medir os níveis de poluição provocados pelas cinzas do vulcão. Temos realizado uma séerie de ações focadas no agente de viagens e no público final. Para este inverno estamos investindo nas redes sociais a fim de realizar promoções para os turistas e mantê-los informado em tempo real sobre a temporada de neve. Estivemos presentes em eventos como a Adventure Sports Fair e Aviesp e estamos fazendo toda uma programação com um pool de operadoras. As ações de marketing estão previstas em torno de US$ 3 milhões. Os resultados estão acima do esperado já que a venda de pacotes tem subido 10% a cada semana. Vamos realizar fampress e famtours levando agentes de viagens e jornalistas para mostrar a nossa recuperação. Só tenho um recado a vocês: retomem a paixão que sempre tiveram por Bariloche. Somos e continuamos a ser o segundo destino turístico da Argentina.
M&E – Como a cidade está se preparando para receber os turistas nesta temporada? Existem novos investimentos e melhorias?
Angel Bosch – Bariloche está recebendo novos investimentos em infraestrutura e hotelaria. O hotel Alma Del Lago é mais um cinco estrelas que foi inaugurado recentemente. Já o Cerro Catedral foi comprado por um novo investidor argentino, o grupo Pia Bariloche do setor de transporte, da família Trappa que está melhorando os serviços para o turista com novos investimentos no local. Bariloche demonstra com isso um poder de recuperação fantástico. A própria Aerolíneas Argentinas está programando voos diretos de São Paulo e Rio de Janeiro para Bariloche durante a temporada apostando neste destino também com as operadoras. E mais, quem sabe se num futuro próximo possamos ter voos diretos do Brasil para Bariloche o ano inteiro.
M&E – Que lições os problemas ocorridos em Bariloche deixaram e que poderão evitar problemas num futuro próximo?
Angel Bosch – Eu diria que a principal lição que aprendemos é que devemos ter sempre um plano B para estes eventuais contratempos. Muitos destinos turísticos enfrentam problemas como aconteceu conosco, mas o importante é passar tranquilidade e temos hoje o compromisso de garantir isso aos turistas. Já estamos muito mais preparados porque aprendemos de forma dura as lições deixadas por esta falta de um planejamento e uma infraestrutura mais adequada. Em caso de eventuais problemas com o vulcão chileno posso garantir que as medidas e providências serão imediatas impedindo que o turista tenha de ficar longo tempo em aeroportos. Hoje já contamos no próprio aeroporto os mais modernos equipamentos do mundo para medir a densidade do ar e prever eventuais problemas. Aprendemos muito com as situações vivenciadas no ano passado, mas foi importante também ver como existe um amor do povo pela sua terra. Os mutirões de moradores foram uma prova disso, com muitas famílias e até crianças ajudando. Muitos empresários tiveram enormes prejuízos, mas o governo não ficou insensível e colaborou de forma efetiva para minimizar os prejuízos. Vocês não imaginam o que passamos, mas decidimos enfrentar e superar este desafio, e posso afirmar que conseguimos. Tudo isso só nos tornou ainda mais fortes e mais preparados para receber melhor os turistas.