Apesar de não ser um especialista na área, o secretário executivo do Ministério do Turismo, Valdir Simão tem a exata noção da importância que a pasta representa como órgão de fomento e de gestão na elaboração das políticas públicas de turismo. O dirigente reconhece que a crise enfrentada pelo setor em função das denúncias que culminaram com a saída do ex-ministro, Pedro Novais, e de outros membros de gestões anteriores, resultaram na perda de credibilidade junto à opinião pública, mas ele se confessa otimista com as mudanças, não apenas pela troca de nomes, mas no modelo de gestão implementado pelo atual ministro Gastão Vieira. Nesta entrevista ao MERCADO & EVENTOS o dirigente fala dos principais pilares que devem sustentar este novo programa de governo do MTur. Confira a entrevista, a seguir:
M&E – As denúncias que abalaram a pasta e levaram à renúncia de Pedro Novais prejudicaram o setor até que ponto? Que tipo de medida deve ser adotada para reverter este quadro?
Valdir Simão – A verdade é que nós não podemos abdicar de exercer a liderança do setor. Vivemos um momento especial em nossa economia, com geração de emprego e renda. Temos que ter meios de preservar toda a riqueza da nossa cultura, do nosso patrimônio ambiental. O turismo deve exercer sempre um papel importante como ferramenta de inclusão social e isso certamente nós não podemos abdicar. Para isso é que o Ministério do Turismo e a Embratur estão se mobilizando juntos, visando o fortalecimento desta indústria para o nosso país.
M&E – E como isso se dará? Quais são as ferramentas a serem utilizadas para esse fim?
Valdir Simão – Uma das primeiras medidas que o ministro Gastão Vieira tomou logo após a sua posse foi tratar da reorganização do Ministério do Turismo, do modelo de gestão. Temos uma equipe e um Plano Nacional de Turismo que irá ser o novo marco sinalizador das políticas públicas. A nossa expectativa é de aprovar a nova etapa do plano, cujos objetivos se estendem até 2015, o mais breve possível. Temos cinco grandes objetivos e o primeiro deles trata especificamente de preparar de modo adequado o Brasil para os mega eventos esportivos que estarão acontecendo até 2017. O segundo objetivo das políticas é tomar as medidas e adotar programas que possibilitem o brasileiro a viajar mais. Isso se refere também aos brasileiros mais pobres que tiveram uma melhoria no poder aquisitivo e que desejam realizar sua primeira viagem. A primeira viagem de avião a gente nunca esquece, fica na memória das pessoas.
M&E – Nesse aspecto, como fazer com que a nova classe média emergente possa ter acesso aos programas de viagem?
Valdir Simão – Antes de mais nada temos que identificar a expectativa do turista em relação às suas preferências e customizar produtos que possam ser consumidos por este novo cliente que passou a ter acesso à classe média. Estamos com um setor específico no MTur para tratar desta questão e que visa oferecer programas que permitam ao brasileiro conhecer melhor o seu país, sua terra, sua cultura.
M&E – Um dos desafios do setor é a implementação da Lei Geral do Turismo que permanece ainda no papel. Como fazer com que se transforme num marco regulatório de fato?
Valdir Simão – Um dos grandes eixos do Plano Nacional do Turismo diz respeito aos programas de gestão descentralizada. É importante que o MTur ajude os estados e municípios a se estruturarem, a se organizarem, e zelar para que o serviço de turismo tenha um padrão de boa qualidade. A Lei Geral do Turismo tem um papel fundamental neste quesito. Esse é um trabalho que certamente vamos realizar ao longo do ano que vem.
M&E – Na nova etapa do Plano Nacional de Turismo quais as ferramentas para aumentar o fluxo do turismo estrangeiro e a entrada de divisas?
Valdir Simão – Um terceiro objetivo do PNT é justamente o que trata deste assunto. Precisamos de fato adotar campanhas de promoção e divulgação no exterior junto aos principais destinos emissores para melhorar e equilibrar a balança do turismo, que atualmente é mais exportativo. É necessário mostrar a nossa diversidade de atrativos, a riqueza da nossa cultura, além das belezas naturais. Para isso precisamos nos tornar mais competitivos. O setor tem que se organizar, melhorar a qualidade do seu receptivo através da qualificação maior de mão de obra, dar oportunidade a empreendedores individuais e com isso reduzir custos e melhorar o padrão turístico. Certamente com isso vamos gerar maior atratividade turística para nossos visitantes. Nesse sentido, a parceria do MTur com a Embratur vai continuar e para isso deve-se trabalhar cada vez mais na desburocratização dos entraves que dificultam a vinda dos turistas.
M&E – Uma das grandes preocupações do setor diz respeito ao novo modelo de gestão do MTur que começa a ser implantado em 2012. Como será isso?
Valdir Simão – O modelo de gestão é fundamental. Há um esforço que não pode ser apenas do ministério, mas precisa ser compartilhado com estados, municípios e a iniciativa privada. Todo o setor precisa se organizar e ter o turismo verdadeiramente como uma ferramenta de desenvolvimento. Creio que, neste sentido, o planejamento é fundamental, bem como a estruturação das ações. Somente assim poderemos de fato fazer com que o turismo venha a ser um fator produtivo gerando renda, emprego e desenvolvimento. O Plano Nacional de Turismo será a base do planejamento estratégico do MTur para o próximo ano. A gente tem que trabalhar para alcançar as metas ambiciosas com base num plano de ações estruturado que efetivamente defina metas, avalie resultados, corrija rumos e preste contas dos gastos realizados. Atualmente é preciso valorizar a mão de obra qualificada, por meio de um Plano de Cargos e Salários na formação cada vez mais de especialistas nesta área. Para isso, estamos trabalhando na profissionalização do modelo de gestão.
M&E – Um dos obstáculos para a implementação de programas e ações tem sido a falta de recursos para investimentos da pasta. Como solucionar essa questão?
Valdir Simão – Precisamos trabalhar cada vez mais na busca de parcerias com diversas entidades e outras pastas do Governo, seja na área ambiental ou cultural. Isso implica num diálogo permanente com a área fazendária, tributária e com os órgãos do meio ambiente. Temos um papel importante a desempenhar neste processo e o Ministério do Turismo vai exercer a função que lhe cabe buscando novas parcerias e aliados para fomento do setor.