Se o mundo muda, o turismo caminha bem mais rápido. Neste ano, completei com orgulho 25 anos de trajetória no setor, mas é como se tivesse avançado 100. O brasileiro não apenas modificou por completo seus hábitos turísticos. Usando a curiosidade inata à sua personalidade, ele se tornou um viajante de carteirinha, contumaz e também exigente.
Sou do tempo em que o Centro de São Paulo para agências e operadoras de viagem era como a Rua São Caetano para as noivas. Todas as empresas de turismo concentravam-se na região, sobretudo em função da proximidade com as companhias aéreas, também ali baseadas. Recebíamos o cliente em um modesto escritório com quatro pessoas, fechávamos a reserva e de lá corríamos rumo à empresa aérea para “carimbar” a viagem.
Um dos principais roteiros turísticos comercializados pela Visual durava simplesmente 21 dias pelo Norte-Nordeste, com passagens por Salvador, Aracaju, Maceió, Recife, Fortaleza, São Luís, Belém e Manaus. Os viajantes brasileiros despendiam mais tempo para suas férias, sem o ritmo frenético de hoje. Os custos eram mais altos e as formas de pagamento inexistiam, já que a exigência era sempre a conhecida compra à vista. No âmbito internacional, as viagens chegavam a 40 dias.
Vivíamos o florescer do Plano Cruzado, que logo se transformou em frustração. Mas cumpríamos a rota da expansão independentemente desses fatores. Em um ano já tínhamos 24 funcionários e estofo para ter uma sede própria. Há dez anos, contudo, partimos para uma área própria de 1.500 m², que já está pequena.
Ao longo de duas décadas e meia, muitas concorrentes ficaram pelo caminho. E nós e alguns poucos personagens do setor tivemos o privilégio de acompanhar o nascimento de um novo perfil de turista. Ainda mais curioso, mas com altíssimo grau de exigência.
A mudança radical começou pelo tempo de viagem. Hoje, a maior parte das pessoas opta por férias que não ultrapassem 10 a 15 dias. A preferência é pela exploração de uma ou no máximo duas cidades a conhecer diversos lugares em um curto período. Descanso é a palavra de ordem do homem moderno, disposto a desbravar o melhor de uma região, mas abrindo mão de tantos deslocamentos.
Em contrapartida, o cliente deseja conforto e serviços em sua máxima medida. Não à toa o mercado de resorts, originalmente associado apenas a estâncias hidrominerais, iniciou sua escalada rumo ao Nordeste e ao Centro-Sul, conquistando o litoral e impulsionando também seus investimentos no interior. Segundo o mais novo relatório BSH Travel Research, da BSH International, há previsão de abertura de 198 hotéis e 46.296 unidades habitacionais entre 2011 e 2014, com investimentos acumulados de R$ 7,33 bilhões.
A necessidade de aprimorar a infraestrutura turística de cada destino nunca se mostrou tão evidente. E novos lugares se projetam para o viajante. Quem ouvia falar em Lençóis Maranhenses ou Maragogi tempos atrás? Daqui a pouco, o mesmo questionamento poderá ser dirigido a localidades como a Península de Maraú, no sul da Bahia. Recentemente, fui convidado a conhecê-la e logo me vi admirado pela natureza exuberante que combina rio, cachoeira e mar.
Que roteiro pronto nada! A moda são as viagens elaboradas. A criação de pacotes personalizados, on demand, é a tônica do negócio das operadoras. Pleno conhecedor do mapa mundi, o viajante de hoje procura combinar passagem aérea, hospedagem e serviços terrestres à sua maneira, de forma a programar uma viagem mais independente, incitando-o a novas descobertas.
O senso de curiosidade, aliado à vivacidade da economia brasileira, abre os olhos para investidores e leva à chegada permanente de novas companhias aéreas em território nacional. Emirates, Turkish, Qatar, Singapore. Nunca o elenco de personagens da aviação comercial foi tão extenso.
A história das viagens confunde-se com a da própria humanidade. Mas de 1986 para cá, o trem da história acelerou. E em um destino bonito por natureza, observado atentamente por todo o mundo, a velocidade parece ser ainda maior. Bom, seguimos em frente e em 2026 revisitamos essas páginas.
Afonso Gomes Louro é presidente da Visual Turismo.
Afonso Gomes Louro