A queda no movimento do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, após as restrições de capacidade implementadas desde janeiro para favorecer a revitalização do Galeão, na Zona Norte da cidade, já foi compensada com aumento do tráfego no terminal internacional, como detalha reportagem publicada pelo jornal O Globo. Nos primeiros sete meses do ano, os dois aeroportos receberam juntos 11,5 milhões de passageiros, 3,4% a mais do que no mesmo período do ano anterior.
As mudanças favoreceram o aeroporto internacional e desafogaram o Santos Dumont. Enquanto o terminal de destinos domésticos encolheu 51,3% de janeiro a julho por conta da limitação, o Galeão viu o volume de passageiros praticamente dobrar no período: alta de 96,7%, com um incremento de 34,3% de passageiros internacionais e de 159,8% nos de voos domésticos.
Adotadas pelo governo federal após pressões do Executivo estadual e da prefeitura do Rio como forma de reverter a crise do Galeão e evitar a saída da concessionária, as restrições levaram a uma perda na oferta de assentos domésticos na cidade. Esta ficou 16% abaixo do registrado nos sete primeiros meses de 2023, segue a reportagem.
A queda na oferta doméstica, segundo especialistas, faz parte da reacomodação do mercado. A restrição no Santos Dumont reduziu o volume de passageiros internacionais que embarcavam no aeroporto central do Rio e faziam conexão para o exterior em Guarulhos ou Campinas, ambos em São Paulo. Agora, esses passageiros podem embarcar direto do Galeão, eliminando essa “perna”.
Passagens mais em conta – Um efeito positivo das mudanças nos aeroportos cariocas se deu no preço das passagens. Levantamento da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico, com base em dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e da OAG, empresa de dados de aviação, sugere que as restrições no Santos Dumont podem ter contribuído para baratear voos a partir do Rio. A tarifa média praticada na cidade chegou a ser 21% maior que a do resto do país no fim do ano passado. Após as primeiras mudanças no Santos Dumont, a partir de outubro, a diferença começou a diminuir e ficou em 10% em março deste ano.
Para o consultor em transporte aéreo André Soutelino, sócio da Navinata Consulting, essa diferença tarifária pode ser atribuída a um estímulo para que o passageiro escolha o Galeão.
“Pela comodidade e facilidade de acesso, tendo a opção, o passageiro está disposto a pagar mais caro para voar no Santos Dumont”, diz o especialista, que, no entanto, acha cedo para avaliar a política de restrição de capacidade no Santos Dumont. “Temos de esperar mais um tempo para ver se os voos internacionais vão permanecer. E isso depende da economia da cidade. O operador privado não faz milagre. O Rio está atraindo mais eventos, o que é muito bom, mas e o transporte até o Galeão? O que está sendo feito para incentivar as companhias estrangeiras? Qual é a política de incentivo?
Para Alessandro Oliveira, coordenador do Núcleo de Transporte Aéreo do ITA, a transferência de voos para o Galeão é benéfica para o Rio, mas não blinda o terminal internacional da sua principal concorrência: outros hubs onde as companhias aéreas brasileiras são mais fortes, como Guarulhos, Campinas e Confins (MG). E também os aeroportos do Nordeste, como Recife e Fortaleza, que, desde que foram privatizados, têm mais sucesso na atração de rotas internacionais.
“O Galeão tem uma concorrência fortíssima com os outros aeroportos. E sente até hoje os efeitos das restrições que impediram a Azul de estabelecer o seu hub no Rio em 2008. Quem garante o sucesso de um aeroporto é a companhia aérea. Precisamos de novas empresas”, diz Oliveira.
Expectativa otimista da RIOGaleão – A expectativa da concessionária RIOGaleão é de uma movimentação de 14,3 milhões de passageiros este ano, sendo 4,7 milhões em voos internacionais. Se isso se confirmar – e o Santos Dumont alcançar o limite da capacidade atual – o crescimento no Rio este ano será de 7%. Serão 20,7 milhões de pessoas ante 19,3 milhões em 2023, mas ainda abaixo do nível pré-pandêmico. Em 2019, os dois aeroportos receberam 23 milhões. Naquele ano, 9,1 milhões passaram pelo Santos Dumont, e 13,9 milhões, pelo Galeão.
O otimismo da RIOGaleão se baseia nos dados de oferta de assentos previstos para a alta temporada de fim de ano. Segundo dados da Anac e do aeroporto, a quantidade de passagens no quarto trimestre para os dois aeroportos do Rio deve crescer 18% em relação ao mesmo período do ano passado. No mercado doméstico, a alta prevista é de 16%. E no internacional, de 29%.
Apesar da retomada, os aeroportos do Rio ainda receberão menos passageiros este ano do que antes da pandemia — a cidade é a única grande capital que ainda não recuperou o movimento de 2019.