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Aviação / Manchete

Em momento mais seguro da aviação, entenda os fatores que levam a acidentes aéreos

Acidente da última sexta-feira (9) não deixou nenhum sobrevivente (Voepass/Guilherme Oliveira)

Acidente da última sexta-feira (9) não deixou nenhum sobrevivente e acontece no momento mais seguro da aviação global (Voepass/Guilherme Oliveira)

Na tarde da última sexta-feira (9), o avião modelo ATR 72-500 da companhia Voepass, que estava indo de Cascavel (PR) a Guarulhos (SP), sofreu uma queda em Vinhedo, interior de São Paulo, levando todos os 62 passageiros à óbito, como confirmou a Prefeitura de Valinhos, cidade que fez parte das operações de resgate. Embora ainda seja difícil identificar o motivo, especialistas já apostam em 95% de certeza em uma das hipóteses.

Só neste ano de 2024, 135 ocorrências de acidentes aéreos foram registradas, de acordo com a Rede de Segurança da Aviação. No ano passado, 155 incidentes de pequenas aeronaves ocorreram ao longo do ano, uma média de um acidente a cada dois dias, de acordo com o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aéreos (Cenipa). Por qual razão estamos registrando tantos acidentes?

O avião é o meio de transporte mais seguro que existe. E este é o momento que a aviação vive sua era mais segura. Mas notícias de acidentes de avião surgem vez ou outra. Isso significa que mais aviões estão sofrendo problemas? A verdade é que acidentes são extremamente raros. O risco de envolvimento de um avião num acidente, onde podem ocorrer diversas fatalidades e já calculando-as, é de um em três milhões.

A comunidade de aviação global está se esforçando intensamente para reduzir ainda mais a probabilidade de acidentes. Há 30 anos, a chance de um acidente era de uma em cada 140 milhões de milhas voadas; atualmente, essa probabilidade caiu para uma em 1,4 bilhão. Isso significa que, em três décadas, o nível de segurança melhorou dez vezes.

Um dos motivos pelos quais os acidentes são tão raros é o sistema de verificação que identifica problemas antes que se tornem graves. Normalmente, isso significa que, para um problema se agravar e se transformar em uma ameaça à segurança, é necessário que uma sequência de outros eventos, em cadeia, também falhe.

Por que aviões caem?

Pane hidráulica, erro humano, condições climáticas, turbulências, falha nos computadores, pane nas turbinas. Muitos motivos podem levar a quedas e acidentes aéreos. Em janeiro deste ano, o perito em aviação e especialista em segurança da Aviação Civil, Marcus Silva Reis, concedeu uma entrevista à Rádio Nacional explicando, justamente, quais poderiam ser os motivos de tantas ocorrências. O perito afirma que esses acidentes se concentram em, principalmente, aviões/aeronaves de pequeno porte.

“A maioria dos acidentes no mundo todo se concentram na aviação geral, a aviação de pequeno porte. Mas não é nada que espante quem conhece o mercado e o assunto”, afirmou Marcus. Isso quer dizer: a aviação privada, como jatinhos e táxis-aéreos, ou até mesmo helicópteros, tem muito mais chances de sofrerem um acidente se comparado à aviões grandes, de companhias maiores ainda.

O motivo de cada um deles, na impressão do perito, parece ser difícil de dizer sem uma investigação, já que cada um difere entre si, mas uma coisa está presente na maioria dos casos: o fator humano. “Sempre tem a questão do erro humano, mas isso não significa um erro só da pilotagem, que fique claro. Ele pode ser de manutenção, de controle, tem inúmeras formas de erros humanos, não é só do piloto”, explica Marcus.

Reis evidencia que a manutenção é um fator relevante nos casos de acidente, principalmente, das aeronaves privadas. Isso porque a administração de um avião privado é, na maior parte, responsabilidade do proprietário do bem. Assim, o erro humano se faz presente, tornando o número de acidentes aéreos de aeronaves de pequeno porte bem maiores do que os de companhias renomadas.

Contudo, Marcus também aponta que, em casos de acidentes recentes, não há como culpabilizar ninguém em primeiro momento. É necessário entender os meios que levaram ao ocorrido por meio de investigação.

“Essa questão de responsabilidade, eu vou te dizer: o maior preocupado em questão de segurança é o piloto. Em um acidente, o piloto faz o máximo que o conhecimento e treinamento dele conseguem fazer, porque também é uma questão de autopreservação. Existe sim o fator humano na maioria dos acidentes, porém, eu posso dizer o seguinte: culpa é uma coisa que você só vai ver depois, em uma ação judicial”, afirmou o perito para Rádio Nacional.

No entanto, em uma visão geral, não importa muito o fabricante e o tamanho da aeronave, os padrões de segurança exigidos por lei são sempre seguidos e, frequentemente, superados. Além disso, antes de serem disponibilizados para uso comercial, todos os equipamentos passam por testes e análises rigorosas. Segundo as estatísticas da aviação, apenas 10% dos acidentes são atribuídos a defeitos nas aeronaves.

Em uma entrevista ao UOL, Miguel Angelo Rodeguero, diretor de segurança operacional da Aopa Brasil (Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves), destacou que a segurança de um tipo de avião não pode ser comparada diretamente a outro. “O ambiente da aviação comercial é diferente do da aviação geral”, afirmou o piloto. Ele ressaltou que todos os tipos de operações são seguros, mas que, na aviação comercial, há um acesso maior a informações para as equipes, além de pilotos que são treinados em simuladores mais avançados, entre outros fatores.

É claro que, a cada nova geração de aviões, as lições aprendidas no passado são aplicadas. No entanto, isso não significa que os jatos mais antigos não se beneficiem das novas tecnologias. Muitas das inovações mais importantes são frequentemente integradas também nas aeronaves mais antigas. A idade de uma aeronave não é tão relevante quanto a sua manutenção e operação.

Caso Voepass

No caso da companhia Voepass, a aeronave era considerada de médio-porte, e de uma companhia renomada na Aviação, mas, mesmo assim, passou a fazer parte da estatística. O motivo, para o engenheiro Celos Faria de Souza, perito especializado em acidentes aéreos, tem duas hipóteses que ainda serão investigadas mas, para o jornal O Globo, o especialista disse que aposta em 95% de certeza em uma delas.

“Havia previsão de formação de gelo na área do acidente. É possível que gelo tenha se formado na asa da aeronave, e o sistema de degelo, por algum motivo, não tenha funcionado. Isso faria com que o avião perdesse sustentação, resultando na queda que observamos no vídeo”, explicou ao Globo.

A hipótese menos provável, mas que ainda não foi descartada, seria o desbalanceamento da aeronave. Isto é, uma carga dentro do avião pode ter se desprendido e movido para a parte de trás da aeronave, de forma que causou a perda de sustentação, resultando em uma queda de quase 17 mil pés em menos de dois minutos.

Embora existam essas duas possibilidades, não há como ter certeza de nenhuma delas, visto que as investigações são processos que ainda vão demorar a chegar em uma resposta. A Voepass é a quarta maior e a mais antiga companhia aérea do Brasil, de acordo com a Anac, e este é o primeiro acidente aéreo em todos os seus 29 anos de história.

 

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