
John Rodgerson, Paulo Kakinoff e Jerome Cadier, presidentes da Azul, Gol e Latam Brasil
O banco BTG Pactual colocou os presidentes das três maiores companhias aéreas do Brasil (Azul, Gol e Latam) frente a frente em uma live que teve também a participação de Juliano Norman, diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A mediação foi feita por Lucas Marquiori, analista de Transportes do BTG Pactual. O tema foi “O setor aéreo pós-Covid” e entre os diversos temas discutidos, os três presidentes chegaram a uma conclusão: para sobreviver, o setor precisa de flexibilizações e de mais eficiência.
O tema foi levantado pelo mediador e respondido inicialmente por Jerome Cadier, presidente da Latam Brasil. Segundo ele, é preciso buscar flexibilidade em toda a cadeia, desde os fabricantes de aeronaves até o cliente final. “Já estamos vendendo passagens que permitem remarcação sem custo e reembolso. O setor é muito rígido em contratos e regulamentações. Se queremos esta flexibilização para os passageiros, precisamos tê-la de toda a cadeia, de todos os provedores”, disse Cadier.
John Rodgerson, presidente da Azul, foi pelo mesmo caminho e atacou os custos e regulamentações do mercado brasileiro, que ele chamou de complexo e caro, se comparado com outros lugares do mundo. “Colômbia e Chile, por exemplo, têm mais passageiros por habitantes do que o Brasil e isso é uma vergonha. Não podemos perder esta crise e não melhorar com ela”, afirmou. E para isso ele pede que impostos sejam diminuídos e os demais custos vinculados da aviação atacados. “Não adianta abrir o capital para investimento estrangeiro e ter regras diferentes do resto do mundo. Perdemos um competidor, que foi a Avianca, e ninguém entrou porque precisa ter muito capital”, complementou.
Já Paulo Kakinoff, presidente da Gol, prevê um segundo semestre desafiador e fala especificamente da pandemia, que fez com que os custos da companhia ficassem ainda maiores. Ele explica que todos estes novos protocolos de segurança e de saúde têm um custo. “Até a solução definitiva, a cura ou uma vacina, a pandemia trará mudanças na experiências e voar ficará mais cara na mesma proporção em que as medidas de segurança forem adotadas”, lamentou. “Muita coisa boa ficará, como um nível de eficiência maior do que o que vivíamos antes e menos burocracia”, reiterou.
Por parte da Anac, Juliano Norman, garantiu um empenho de toda a agência para que as regulamentações sejam modernizadas e os custos das companhias diminuam. O executivo acredita que especialmente neste momento em que a aviação foi duramente afetada pela crise, o setor não precisa de custos desnecessários. “Queremos mudanças no ambiente regulatório e a agência está focada na redução de custos e ampliação da concorrência. Temos cerca de 15% da população que viaja regularmente. O transporte aéreo está longe de ser universal, por isso estamos batendo na tecla da redução de custos. Há muito a crescer e, de certa forma, o nosso sucesso depende destas mudanças”, ressaltou.
Eficiência
Kaninoff, no entanto, destacou um ponto positivo nos novos hábitos dos passageiros, o que pode gerar uma maior eficiência e consequente diminuição de custos. Segundo ele, tendências que já estavam em alta – como um aumento do auto serviço – devem ser aceleradas a partir de agora. “O índice de pessoas que embarcava sem nenhum tipo de interação pessoal era de 70%. A tendência é que agora isso dispare e chegue próximo a 90%. Desta forma, fazemos um investimento menor em estruturas que são caras e retomamos uma boa parte da eficiência que foi afetada pela crise”, explicou.
Concorrência e BNDES
“Foi muito mais divertido brigar por slots em Congonhas do que passar por esta pandemia”. Foi com esta frase que Rodgerson resumiu os problemas enfrentados pelas companhias aéreas durante esta crise. Ele lembrou da disputa entre as três maiores empresas do País pelo direito de pousar e decolar no mais cobiçado aeroporto do País – que na época gerou uma guerra de declarações na imprensa e um rompimento da Azul com a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear).
“Foi muito mais divertido brigar por slots em Congonhas do que passar por esta pandemia”. Foi com esta frase que Rodgerson resumiu os problemas enfrentados pelas companhias aéreas durante esta crise.
Com este gancho, ele reiterou o respeito pelos seus concorrentes e garantiu que a luta é pela retomada do setor. “Não tem concorrência porque não há demanda”, disparou. “Falam em ‘ajuda’ do BNDES. Mas não é isso. Vamos esquecer as empresas e olhar para a indústria como um todo por um segundo. Veja o quanto ela traz de impostos e empregos. O País terá retorno e, além disso, pagaremos tudo com juros”, completou o presidente da Azul, citando a linha lançada pelo BNDES que disponibiliza recursos bilionários ao setor.
Retomada
Nenhum dos três presidentes quis fazer previsões concretas sobre uma eventual retomada, mas se preocuparam em ser otimistas para o público de investidores do BTG Pactual. Cadier foi o mais específico, dizendo que a recuperação do doméstico será mais rápida. O internacional, para ele, deve demorar um pouco mais por conta do fechamento das fronteiras e da própria distância. Rodgerson, concordou e, à sua maneira, convidou o brasileiro a conhecer melhor o seu País. “Muitas pessoas que estão assistindo esta live conhecem interior da França, mas não conhecem Foz do Iguaçu. Isso é uma vergonha”, disparou.
“O momento é desafiador. Na Gol usamos o exemplo de uma travessia do deserto, que você não sabe quais temperaturas irá encontrar no meio do caminho. Mas, como todas as crises, esta vai passar”, disse Kakinoff.
Mais otimista, mas também sem fazer previsões, foi Kakinoff. Embora reconheça o momento atual como “tenso” e de “incertezas”, credita isso pelo fato de estarmos vivendo um problema inédito e acredita na recuperação do setor. “O momento é desafiador. Na Gol usamos o exemplo de uma travessia do deserto, que você não sabe quais temperaturas irá encontrar no meio do caminho. Mas, como todas as crises, esta vai passar. O Brasil seguirá existindo e o setor aéreo continuará existindo”, concluiu.