
Eduardo Nascimento
São 53 anos de atuação no setor de turismo. Neste período, Eduardo Nascimento não se restringiu apenas a cuidar da empresa que fundou, a Nascimento Turismo, mas também participou de forma ativa do desenvolvimento do setor. Pela sua atuação, que inclui a criação de entidades como Braztoa e Abremar, além de influência no surgimento da Embratur e no dólar turismo, ele foi homenageado pelo M&E e pela WTM com o prêmio Travel Leaders Award. Veja na entrevista abaixo tudo o que ele pensa sobre o atual momento do setor.
MERCADO & EVENTOS – Recentemente, o Sindetur-SP e outras entidades fizeram algumas reivindicações à Anac e houve uma sinalização positiva. Como está este pleito?
Eduardo Nascimento – Estamos tentando fazer com que as regras postas pelas companhias aéreas sejam homologadas pela Anac e sejam únicas. Por isso, fizemos um decálogo de regras e enviamos para a Anac. Existem multas absurdas e débitos indevidos para as agências, reembolso obrigatório, reembolso de bagagem e outros. Rever isso facilitaria a vida do consumidor. Sentimos que existe um apoio, pois já existe um Projeto de Lei em andamento no Congresso que inclui algumas dessas regras.
M&E – O mercado está em um processo de transformação, especialmente para os agentes de viagens, que hoje têm a concorrência das OTAs e até de alguns fornecedores. Como o senhor avalia este atual momento?
Eduardo Nascimento – Entendo que o turismo tenha esta dificuldade desde quando eu me conheço como agente de viagem. Sempre existia uma transformação sendo feita e as dificuldades oriundas delas. Muitas foram bastante importantes e faziam com que nós tivéssemos respostas rápidas e criativas para os problemas que surgiam. Hoje não são apenas as OTAs, porque a necessidade de vender ao consumidor é tão grande que a concorrência se tornou enorme. As OTAs são algumas delas, mas as próprias companhias e redes de hotéis buscam o consumidor diretamente, passando por cima de toda a estrutura do setor.
M&E – Qual é o caminho para equacionar este problema?
Eduardo Nascimento – Não vejo como solucionar isso, pois há uma falta de entendimento de todos de como deveria funcionar o sistema. O apetite das empresas é muito grande e as empresas querem logo avançar no consumidor a qualquer custo. O curioso é que, muitas vezes, há perda de rentabilidade dos próprios fornecedores, pois vão baixando o preço aos poucos. Não vejo calma suficiente para analisar a melhor forma de beneficiar todo o mercado.
M&E – É um mercado que ainda não está maduro?
Eduardo Nascimento – O mercado nunca ficará maduro, porque ele se renova constantemente. Há uma nova onda de consumidores que adentram ao mercado e tudo isso contribui para a mudança. No ano passado as companhias aéreas nacionais transportaram 77 milhões de passageiros, um número que era inimaginável há dez anos. O que vai fazer com que essas empresas sobrevivam, de certa maneira, é o crescimento do mercado. Este é um ramo que pede atenção permanente, pois quem se acomoda, desaparece.
M&E – Por isso que nos últimos anos vimos muitas fusões e aquisições no setor?
Eduardo Nascimento – Em boa parte sim. Porque hoje é necessário ter capital para investir em publicidade e tecnologia e são os grandes fundos que têm esses recursos. E eles têm comprado empresas em todos os setores, não apenas no turismo.
M&E – O que o senhor acha das medidas restritivas do governo brasileiro para compras no exterior?
Eduardo Nascimento – Essas medidas são inócuas, porque as coisas no Brasil são muito caras. A não ser que voltem a fazer o depósito compulsório, como em 1976, isso não adianta. Nesta ocasião, fui falar com o ministro, pois houve uma crise total, com empresas fechando. Foi daí que surgiu o dólar turismo, por uma reivindicação da Federação do Comércio. Até aí o Brasil vendia apenas US$ 1 mil no câmbio oficial para cada pessoa que ia viajar, mas a balança continuava com déficit por conta do câmbio negro. Queríamos acabar com esta bobagem e sugerimos uma bolsa de moeda com o câmbio viagem. Esta foi, para mim, uma das minhas maiores contribuições para o setor, a influência na criação do dólar turismo.
M&E – Vimos muitas operadoras fecharem em 2014. O senhor credita isso a um momento ruim ou há uma fragilidade no mercado?
Eduardo Nascimento – Estamos vivendo uma crise econômica bastante forte, ou uma queda de demanda muito grande. O Ipeturis fez uma pesquisa que demonstrou que em razão da Copa do Mundo, o movimento das agências caiu 43%. Este para mim é um número absurdo, pois 5%, 10% é natural, mas 43% não é aceitável. Em razão disso, algumas operadoras fecharam, mas todo ano pelo menos uma fecha. Em 2014 tem sido mais difícil, ainda vejo dificuldades pela frente, a não ser que o governo repense a política econômica e o país volte a crescer.