
Eduardo Sanovicz
O número de passageiros transportados pelas companhias aéreas nacionais sofreu uma queda em 2013. Foram 77,4 milhões no total, contra pouco mais de 100 milhões em 2012. A interrupção no processo de dez anos de crescimento contínuo, de acordo com o presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz, se deve ao aumento dos custos das empresas, com a disparada do preço do dólar e do querosene de aviação. Por conta disso, as aéreas fizeram uma série de ajustes, diminuindo a oferta em 2%. A demanda cresceu 6,5%, alcançando 87,6 bilhões de RPKs. Para 2014 a entidade prevê um crescimento de 7,4% na demanda e a retomada da oferta, com uma ampliação de 3,5%. Com a definição da malha aérea para a Copa do Mundo (ver matéria na página 14) e a consequente queda dos preços, Sanovicz acredita que as companhias fizeram a sua parte e espera respostas do governo para as demandas do setor. “O nosso compromisso maior é pelos quase 100 milhões de brasileiros que transportamos. Esta primeira década de queda de preços mostrou uma lição de casa das companhias muito forte. A próxima etapa já não é só nossa. É preciso que os demais agentes que participam do processo, notadamente o Governo Federal e os Estaduais, façam a parte deles”, afirmou. Leia abaixo a entrevista completa:
MERCADO & EVENTOS – Este foi um ano em que as companhias aéreas tiveram que lidar com a interrupção do crescimento e muitas críticas pela alta nos preços e diminuição da oferta. Como você define 2013 para o setor?
Eduardo Sanovicz – Este foi um ano em que precisamos aprender a nos comunicar. Na medida em que os custos estouraram e as nossas agendas não foram atendidas, tivemos que fazer ajustes muito fortes na malha e na oferta para manter o conjunto de atendimento do país funcionando. Claro que isso gerou dificuldades. Cada vez que tiramos voos de um destino ou mudamos a malha, aconteceram reações. Avalio que 2013 foi um ano em que o processo de crescimento contínuo, que vinha desde 2003, deu uma diminuída. Foi o primeiro ano em que os números não foram muito expressivos.
M&E – Mesmo assim houve um aumento de 6,5 % na demanda. Por que?
Eduardo Sanovicz – A demanda teve sim um crescimento, mas a oferta precisou ser ajustada porque os custos estouraram e as nossas reivindicações de revisão da precificação do combustível, impostos e taxas seguem em aberto.
M&E – Como estão essas demandas junto aos governos? Alguma delas deve ser atendida em 2014?
Eduardo Sanovicz – A agenda segue em aberta e vamos seguir demandando. Continuaremos tentando criar as condições para manter o diálogo e para que de alguma forma isso seja atendido, mesmo porque é de interesse dos nossos consumidores. O nosso compromisso maior é pelos quase 100 milhões de brasileiros que transportamos. Queremos voar para mais lugares, transportar mais gente e com preços ainda mais acessíveis. Esta primeira década de queda de preços mostrou uma lição de casa das companhias muito forte. A próxima etapa já não é só nossa. É preciso que os demais agentes que participam do processo, notadamente o Governo Federal e os Estaduais, façam a parte deles.
M&E – Este é um ano de Copa do Mundo e as companhias aéreas estarão ainda mais na pauta da sociedade como um todo. Como a Abear se preparou para isso?
Eduardo Sanovicz – Creio que o melhor que poderia acontecer para nós é sermos observados com uma lupa. Assim ficamos sempre ligados. Tomamos algumas atitudes e a primeira foi pedir para a Anac a criação de um conjunto importante de novos voos. Mais de 90% foram autorizados. Com isso teremos pouco mais de 350 mil assentos novos para os pontos onde ocorrerão os jogos de forma a garantir um transporte tranquilo e com as mesmas qualidades e segurança.
M&E – Com isso, os preços tendem a cair?
Eduardo Sanovicz – A consequência imediata dessas ações foi a queda dos preços. Já tivemos quedas de até 70% nesses trechos. Creio que, rigorosamente como nós previmos antes da malha nova sair, os preços caíram. Vamos continuar aquilo que estamos fazendo há dez anos. Fomos de 30 para 100 milhões de passageiros e o preço da tarifa média caiu pela metade. Quanto ao transporte aéreo na Copa do Mundo, os últimos fatos mostram que fizemos a nossa parte.
M&E – Como a demanda deve se comportar neste período?
Eduardo Sanovicz – Sabemos que mais pessoas virão ao Brasil. Mas voltamos a lembrar que a experiência da África do Sul, Alemanha e Londres durante as duas últimas Copas do Mundo e os Jogos Olímpicos mostra que houve queda na demanda. Sabemos que 75% do nosso tráfico normal é corporativo e durante o evento isso tende a diminuir drasticamente, além disso, será feriado em muitos lugares. Este público será substituído em partes pelos turistas que virão para ver os jogos, mas a demanda deve cair.
M&E – Que outras medidas as companhias estão tomando para atender bem os passageiros neste período?
Eduardo Sanovicz – A frota será otimizada. Teremos uma ampliação entre 7 e 8%, que corresponde às aeronaves que passam por manutenções periódicas e programadas. As companhias estão antecipando isso para poder contar com o maior número de aviões neste período. A operação será parecida com a que fazemos para as festas de final de ano. Vamos trabalhar de forma a minimizar os impactos deste número maior de voos. O efetivo também deve aumentar, com a antecipação de férias e contratações temporárias.