
Valdir Walendowsky
Para boa parte das 12 cidades-sede selecionadas e aprovadas pela Fifa, os investimentos em infraestrutura, com recursos governamentais, vão a todo vapor. O mesmo não acontece em cidades que não fazem parte da programação dos jogos. Entre os estados que se ressentem ainda de melhorias na mobilidade urbana e de acesso aéreo está Santa Catarina.
Sem ter sido escolhida como cidade-sede e, sem sequer abrigar um dos centros de treinamento das 32 seleções, o estado de Santa Catarina vem desenvolvendo, de modo independente, como alternativa, uma política própria de promoção e estratégia comercial, que lhe garante para essa temporada de verão um incremento de 30% a mais em comparação ao verão passado, no fluxo internacional e uma estimativa de 704 voos charteres, até o momento.
Esses números, na opinião de Valdir Walendowsky, secretário estadual de Turismo e presidente da Santur, poderiam ser bem mais expressivos se o estado contasse com apoio governamental para implementação de uma melhor infraestrutura, tanto de acessibilidade como de mobilidade urbana. Apesar de ter uma localização estratégica fundamental no corredor do Mercosul, região considerada prioritária por parte do Ministério do Turismo, falta prioridade do Governo Federal para fomento em áreas como aviação regional e até o turismo de cruzeiros em Santa Catarina.
MERCADO & EVENTOS – Como vê a posição do governo de apenas priorizar investimentos e a promoção dos destinos para as cidades-sede da Copa?
Valdir Walendowsky – Vemos com preocupação porque existem destinos turísticos que não devem ser excluídos nas políticas de fomento ao turismo. Eu diria que se não tivéssemos feito o nosso trabalho por nós mesmos, muito pouca coisa teria evoluído para essa temporada de verão. Como é natural, o Governo deu prioridade aos investimentos e promoção das cidades-sede. A questão é que os demais destinos turísticos do país foram praticamente excluídos desta política. E você não deve esquecer que um Estado como Santa Catarina é um dos grandes destinos do turismo internacional, principalmente durante os meses de verão. Somos um corredor do Mercosul e se o Ministério diz que os países do Cone Sul são nosso principal mercado internacional emissor, então deve priorizar também os destinos mais procurados por esses turistas. Não é de hoje que Santa Catarina vem trabalhando esses mercados emissores. Já realizamos ações até mesmo antes do Governo priorizar este mercado. Lembro que fomos o primeiro Estado do Brasil a realizar ações promocionais no Chile. É preocupante essa situação, porque eventos como Copa e Olimpíadas são temporais, mas o turismo do Brasil precisa ter uma política de continuidade e fomento. E isso passa por questões como as telecomunicações. Em Balneário Camboriú, destino prioritário para o turismo, questões simples como uso de celular e internet são problemáticas e não suportam o grande volume de usuários na alta temporada. Num país que quer ser referência do turismo mundial essas questões de cidades que passam pela falta de melhores rodovias, comunicação deficiente e aeroportos ruins acabam sendo uma verdadeira vergonha, pois passam uma imagem negativa tanto para os habitantes que nelas vivem, como para os turistas.
M&E – Com o trabalho de planejamento realizado pelo Governo Estadual, como estão as perspectivas para a temporada deste verão?
Valdir Walendowsky – Estamos prevendo um incremento de 30% no fluxo internacional e de 5% no nacional. O nosso receptivo é muito grande e experiente para receber esse volume. A grande preocupação diz respeito à infraestrutura. Muitos dos charteres terão que operar durante a noite por falta de horários disponíveis. Estamos com mais de 700 charteres previstos. No cômputo geral, estamos trabalhando com uma estimativa de ter fechado o ano com seis milhões de turistas, dos quais pelo menos 8% desse volume é de estrangeiros. O incremento do fluxo turístico não tem se limitado apenas ao litoral, mas também a região das Serras Catarinenses. No ano passado tivemos um incremento de 30% para essas cidades de Serra.
M&E – Uma das questões que têm sido objeto de discussão é o uso da aviação regional para facilitar o acesso a cidades com potencial turístico. Como Santa Catarina tem trabalhado este tema?
Valdir Walendowsky – Essa é a questão que o Estado tem trabalhado com maior empenho para incentivar o turismo regional. Veja o caso da rota entre Florianópolis e Foz do Iguaçu, que pode estimular o turismo doméstico. Os operadores internacionais têm nos solicitado também rotas internacionais alternativas que facilitem o acesso às cidades não apenas do país, mas que ofereçam roteiros integrados entre Brasil e Argentina, por exemplo. Isso certamente poderia favorecer muito o turismo do país. É preciso pensar o turismo de uma forma global, com opções aéreas fora do eixo Rio e São Paulo, beneficiando também outras cidades mais distantes. Do jeito que atualmente estamos, os passageiros ficam obrigados a fazer verdadeiros sacrifícios para chegarem ao seu destino, em conexões e escalas intermináveis, sem esquecer que o custo da passagem é muito maior para o passageiro. Muitas vezes para ir a Foz o passageiro é obrigado a ir ao Rio ou São Paulo para retornar para o Sul, aumentando assim o tempo da viagem e também o custo.
M&E – Santa Catarina terá algum benefício com a vinda de turistas estrangeiros para a Copa do Mundo em junho no Brasil? E o que será priorizado esse ano pela Setur?
Valdir Walendowsky – Não acredito que isso vá acontecer. O motivo é muito simples, porque o turista que vem para esse tipo de evento já vem com um pacote fechado e estará visitando uma das 12 cidades-sede para torcer por sua seleção. Nós pleiteamos receber seleções como uma das sub-sedes, mas não conseguimos. Não me pergunte o motivo de termos sido excluídos. Temos excelentes locais para treinamento e não sei porque não fomos selecionados. Fizemos um esforço grande e recebemos representantes de várias seleções durante o ano passado. Todos interessados em usar nossas instalações. Pena que ao final nada sobrou para o estado. Não foi por falta de trabalho nosso, isso eu posso garantir. Nos empenhamos muito, mas não sei a razão de outras cidades terem sido escolhidas. No que se refere às prioridades para esse ano, vamos dar continuidade a nossa política de promoção com foco no planejamento de cidades de pequeno e médio porte, mas com grande potencial turístico. Essas cidades precisam melhorar o padrão de receptivo. Fechamos uma parceria com a secretaria de Planejamento do Estado para execução de planos diretores. Nossa meta é fazer com que as cidades das dez regiões turísticas do Estado façam a diferença nos serviços e no atendimento oferecidos aos turistas.